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domingo, 20 de setembro de 2009

Ah, Eu Sou Gaúcho (Fascista)!


Nasci em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. Terra de Teixeirinha. No centro da cidade, como símbolo, foi plantada uma cuia de chimarrão.

"Sou gaúcho lá de Passo Fundo, trato todo mundo com maior respeito; mas se alguém me pisar no pala, meu revolver fala e o buchincho está feito...", cantava Teixeirinha.

Semana Farroupilha: Yeda Crusius vestida de prenda, Lasier Martins pilchado e a família Fagundes desfilando orgulhosa no Alegrete...

Bueno, sou gaúcho e amo este pedaço de chão. Mas sempre me incomodou este tradicionalismo ufanista, essencializador, idealizador de uma (falsa) memória que apresenta o homo gauchus como a "bolachinha mais recheada do pacote".

Em Passo Fundo, em março de 2007, o jornalista e Historiador Luiz Carlos Tau Golin lançou o Manifesto do Movimento contra o Tradicionalismo.

O escrito merece ser lido e refletido.

Inicia com exposição de motivos que demonstra a pluralidade da formação do gaúcho, concluindo ser "(...) ilegítimo todo o movimento ou iniciativa doutrinária de orientação pública ou particular que não represente a complexidade social e cultural do estado."
Assim, "É alienante e escapista todo o movimento que impede e atua através de instrumentos de coerção cultural, midiático ou econômico, com o objetivo de dificultar os desenvolvimentos culturais e estéticos que tomam os indivíduos e as realidades contemporâneas como matérias de suas criações e vivências estéticas. É repressor todo o movimento que milita através do governo, da educação, da economia e da mídia, para fechar os espaços das manifestações artísticas, das representações simbólicas e das inquietações filosóficas sobre os múltiplos aspectos do Rio Grande do Sul. É doutrinador e usurpador do direito individual todo o movimento organizado que impõe modelos de comportamento fora de seu espaço privado, se auto-elegendo como arquétipo de uma moralidade para toda a sociedade."

O Manifesto enumera 38 razões pelas quais entende ser autoritária a 'cultura' consagrada pelo MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho).

O Manifesto pode ser lido na íntegra e assinado no RS Insurgente.

3 comentários:

  1. Como bem diz Eduardo Bueno: "sou gaúcho, mas não praticante."

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  2. Também nasci em Passo Fundo, no norte do estado do RS (sempre me incomodou este: "interior" - o que sobra? POA é exterior, por acaso? Tá certo, as cabeças são diferentes, o sotaque é diferente, eu gosto bem mais do anonimato que as ruas de POA me proporcionam, mas, defeito meu, o interior soa como pejorativo)e, por mais que não pratique o gauchismo, tenho uma radicalidade gaudéria (como já disseste) que me faz simpatizar com o 20 de setembro... Talvez sinta nele, ainda que falaciosamente (como querem os historiadores), um quê de inconformismo, de rebeldia, de vontade de liberdade...de ser diferente (o que é paradoxal diante de um dos ideais iluminista-revolucionário: igualdade...). Talvez por sermos minoria e pela sensação de isolamento que a geografia fez crer, vivamos tentando nos autoafirmar assim: áh eu sou gaúcho! Como se isso fosse muito bom, como se aqui fosse melhor viver, como se o povo fosse melhor em alguma coisa. Uma tendência desesperada de dizer: - Tudo bem, nós existimos; fomos massacrados na batalha; o RS sozinho fracassaria como Estado; mas, tudo bem, somos fortes, somos valentes, o que importa é a resistência.

    E, sobre o MTG, deixo prá lá. Se o tradicionalismo não fosse acanhado, não seria tão propagandeado. Eles são uma parte do nosso folclore. Uma tentativa de manutenção do localismo em meio ao globalismo.

    Áh, e Passo Fundo, para mim, é a terra do Salo, do Amilton, do Bitencourt e do Felipão...

    P.S. 1. Admito: Bitencourt não nasceu em Passo Fundo; mas Teixeirinha também não. E os pacifistas que me perdoem: nosso hino é uma marselhesa! Até meu amigo goiano acha lindo.

    P.S. 2. Naquela final do Inter com o São Paulo, aqui em POA, em que maragat, ops, colorados disputavam para ver quem iria ao Japão (nem me lembro por qual título brigavam), tu não gritaste no estádio "Áh, eu sou gaúcho!" junto com a massa? Até eu que sou gremista torci contra eles.

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  3. Renata, sobre o ps 2: esse talvez seja um problema. O bairrismo hoje se manifesta na histeria do futebol.

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