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quarta-feira, 2 de março de 2011

Plágio na Tese de Doutorado: Culpa do Estagiário

A notícia de ontem certamente chamou a atenção da comunidade acadêmica.
O Ministro da Defesa da Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg, cogitado inclusive para ser o sucessor de Angela Merkel, renunciou ao cargo após ter sido acusado de fraude acadêmica.
Leio na Deutsche Welle que "a Universidade de Bayreuth cassou o título de doutor em Direito, que havia outorgado a Guttenberg com a qualificação máxima. A universidade está investigando se a cópia de citações sem a especificação de seus autores aconteceu de forma premeditada."
O fato é interessante e merece reflexão.
Participei, ao longo da carreira acadêmica, de inúmeros procedimentos administrativos para investigação de fraudes.
Inegavelmente, como brinco frequentemente, a fraude de um trabalho (monografia, dissertação e tese) é o mais grave ilícito acadêmico. Uma espécie de crime hediondo intelectual.
Com o advento da internet, este tipo de prática, como todos sabemos, é cada vez mais frequente. Mas não por este motivo que esta prática deva ser tolerada.
Para além das possíveis consequências penais - o crime autoral é de ação privada, lembremos - e das repercussões na esfera cível, é no âmbito administrativo-universitário que os efeitos acabam sendo os mais notórios. Perda do título e devolução dos valores de bolsa de estudos àqueles que foram contemplados com financiamento público ou privado, são as consequências mais visíveis. No entanto, é o descrédito perante à comunidade científica que mais marca este tipo de estelionato intelectual.
No caso alemão, o plágio gerou importantes efeitos políticos.
Interessante, portanto, ver a forma e a amplitude que estamos dando, na academia nacional, aos casos de fraude. Sobretudo porque conheço várias figuras públicas, que trabalham em 'respeitáveis' instituições, que não tiveram qualquer sanção funcional, mesmo após terem tido seus títulos cassados por plágio. Embora a desculpa para este pecadillo não tenha sido diferente do noticiado pela imprensa alemã: "(...) pelo menos dois terços da tese do político de 39 anos eram copiados de textos alheios, ainda que ele insista ter se tratado de 'erros' e não de plágio." A responsabilidade, em vários casos, é bem delimitada: culpa do estagiário - que deveria ter redigido um texto original e que preferiu copiar.

9 comentários:

  1. Dr. Salo, milagrosamente consegui baixar seus maravilhosos textos... vc é fantástico! Parabéns pela sua contribuicão de luz a humanidade...

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  2. Essa aqui é ótima:

    "A UM PLAGIÁRIO

    Copiaste? Fizeste bem.

    Copia mais, sem canceira,

    Copia, pilha, retém.

    É a única maneira

    De não escreveres asneira."(Joaquim Moura Costa / Fernando Pessoa)

    ;-)

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  3. Esse cara, pelo nome, é de uma família "nobre" (sim, ainda tem muito disso nas Oropa), certamente riquíssimo, na posição e função social que lhe cabe como uma luva. Explicações? Pela minha experiência: metade dos copiadores são simplesmente psicopatas em sentido lato, que querem se punir de algo inconsciente e preparam o próprio buraco no qual cairão, levando o máximo de gente junto (parece ser o caso do "Barão" zu Gutenberg); a outra metade são sociopatas (vulgo "sem-vergonhas") que não estão nem aí para o que fazem ou deixam de fazer. Quem tem consciência ética e sanidade que sofra em seu lugar.
    Abração,
    RTS.-

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  4. Temos um caso recente aqui na minha província.
    Os alunos da graduação não se dão ao luxo de mudar uma vírgula, copiam e entregam descaradamente.
    Já adultos podem então culpar o estagiário pela denúncia errada, sentença mal redigida, cópias na dissertação, erros grosseiros na petição...toda conta tem um dono, não é mesmo?
    abs

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  5. Não é só na Alemanha. AW

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  6. O chato é que aqui no Brasil só recentemente tem-se notícias de alguns plagiadores. Somente quem está muito vinculado ao meio acadêmico sabe quem plagia, respondeu por isso, etc. Acho que poderia haver mais publicidade nesses casos, principalmente na nossa área.

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  7. pelo contrário: não é só no Brasil.

    plágio = maior chinelagem acadêmica possível.

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  8. Inacreditável o nome completo dele:




    Karl-Theodor Maria Nikolaus Johann Jacob Franz Philipp Joseph Sylvester Freiherr von und zu Guttenberg

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