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sábado, 23 de abril de 2011

De Estrangeirismos e Autoritarismos Xenófobos

Algo além do fato de ser o reflexo de uma postura política provinciana,  me deixou (muito) incomodado a aprovação da "Lei contra os Estrangeirismos", do deputado Raul Carrion (foto ao lado) - O Projeto 156/2009 obriga a tradução de expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa, sempre que houver no idioma uma palavra ou expressão equivalente.
Não parecer estar em questão - ou ao menos não parece ser a questão central -, o fato de que vivemos em um mundo cada vez mais destituído de fronteiras, onde a informação é veiculada sem limites de nação ou de língua, e que projetos desta natureza representam caricaturas da política do século passado. Política que resumia tudo e todos em estereótipos contrapostos.
E igualmente parece não ser o ponto principal o fato de que Leis inócuas não são cumpridas.
O que efetivamente me deixa assustado com Leis 'purificadoras' é o seu nítido corte autoritárioxenófobo. Xenofobia, conforme Houaiss, é a "desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país."
Os 'procedimientos de limpieza' foram, durante a Idade Média, o principal mecanismo da Inquisição para proteger a sua cultura das influências estrangeiras. A lógica era bastante simples: a cultura deve estar imune às impurezas externas; o outro é um perigo que deve ser eliminado.
Não preciso comentar que as práticas totalitárias do Século XX foram fundamentadas, em praticamente sua integralidade, neste ideal de pureza.
E, em pleno Século XXI, parece não haver mais espaço para cultivar sentimentos de exclusão cultural que moldaram as políticas genocidas do Século XX - diga-se, a 'grande política' dos blocos autoritários de direita e de esquerda.

3 comentários:

  1. Engraçado que ninguém jamais propõe lei contra o ingresso de empresas estrangeiras no país, o que denota um tipo de purismo um tanto quanto falacioso.

    Essa cultura do carteiraço linguístico não significa nada do ponto de vista comunicativo, as reformas ortográficas de "cima para baixo". Os povos continuarão comunicando-se e reinventando a língua e vamos ver quem cria mais efetivamente, vamos ver...

    Bom ponto o da xenofobia. É uma expressão curiosa de nossa era, talvez reveladora da hipocrisia da ideia de globalização, que está mais para uma interação econômica hierarquizada (dos que mais podem sobre os que menos) que para uma noção mínima de comunidade sem fronteiras (vide as proibições das burkas, as políticas anti-estrangeiros do submundo em países ricos, etc.).

    E daí que a gente aqui finge que existe uma identidade cultural brasileira expressa pela língua a se preservar, enquanto se relaciona mais com produtos estrangeiros que não apenas criam como impõem outras necessidades comunicativas...

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  2. E o que faz com a Lei Anti-Bullying, Carrion!? Seria um caso de antinomia jurídica esse!?

    Sinceramente, sem medo de cair no senso comum, tenho uma opinião bem simples sobre esse PL: uma grande bobagem. E como uma bobagem, merece a mesma atenção que qualquer outra.
    Nada mais.

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  3. Concordo: grande bobagem. Como se não se tivesse coisas mais sérias para pensar (e legislar)

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