Meu irmão José Carlos Moreira da Silva Filho (Seu Zeca), publicou no blog do PPGD da Unisinos comentário sobre o livro do Timm, Ocaso - Contos de Entreluz, que faço questão de divulgar. Não apenas pela excelência do livro, conforme havia postado em momento anterior, mas pela leitura que o Seu Zeca realizou.
No mês de agosto, o professor Ricardo Timm de Souza nos brindou com o lançamento do seu livro de contos intitulado “Ocaso – contos de entreluz”. O livro, publicado pela AGE Editora, havia recebido a menção honrosa no Concurso Nacional SESC de Literatura 2005, na categoria Contos.Quando o Timm esteve na UNISINOS para ministrar a aula final da minha disciplina no Mestrado relativa ao primeiro semestre de 2009, ele havia me falado deste livro, ainda por ser lançado. Devo ao amigo Salo de Carvalho o fato de ter posto as mãos em um exemplar, com o qual ele me presenteou.O livro é uma pintura. Os contos se agrupam. Em todos eles é possível entrever as sugestões e sutilezas de um olhar atento às pequenas coisas, básicas, delicadas, abertas plenamente à compaixão e a um infinito importar-se. Em nossas vidas atribuladas e em nossos relógios sem espaço essas coisas desaparecem e viram uma espécie de borrão com o qual nunca nos ocupamos. É por isto que o momento do ocaso costura todos os textos, quando luz e escuridão se misturam, quando o que ainda não foi e o que já vai deixando de ser se encontram, e também quando parece se abrir uma espécie de portal no qual o tempo não se divide e a transformação parece sempre e ao mesmo tempo possível e inevitável.Timm escreve como se fosse um Kafka mais terno e esperançoso, deixando mais evidente que a fraqueza das nuances e dos pequenos murmúrios sufocados, além de revelar a dor, a desolação e a solidão, esconde uma força que pode ser arrebatadora, como o foi a leitura que me arrastou da primeira à última página do livro.Desfilo aqui uma galeria de imagens extraídas dos contos: o garotinho para o qual o desenho perfeito com o qual pretende presentear a sua mãe se transforma em tudo o que importa; a chegada no hotel vazio e desconhecido durante o crepúsculo; a inevitável morte da mosca rajada nas teias da aranha absoluta; a insegurança exasperada de um jovem enamorado; o velório solitário e a compaixão muda e sufocada do coveiro; a gatinha Grubiru incompreendida em seus apelos de carinho e abandonada até a morte solitária em um gatil (este foi forte); a caixa d´água abandonada e esquecida; a alegria e a fantasia trazidas pelo circo quando começa a acender suas luzes e a emitir os seus sons na pequena cidade; a solidão da cozinheira que se permite fazer e saborear um pudim perfeito; a dor e o arrependimento de quem reconhece somente na sua morte o amor de outrem outrora desprezado e ignorado; a cumplicidade entre um garoto e um pequeno passarinho aninhado em suas mãos; a lembrança quase esquecida do desconhecido e do misterioso da infância pulsando na forma do olho de um dinossauro escondido no lago; todas as nuances das ruas comprimidas entre a “coagulação do passado” (cemitério) e a “concentração do futuro” (jardins de infância); a amiguinha da infância com Síndrome de Down; a magnitude da cartinha escrita e postada por um garotinho para participar do sorteio; e, finalmente, Kik, a mancha que insiste em borrar nossas ilusões de certeza e consciência.É como diz a citação de Cortázar que aparece no início da obra: “…un crepúsculo…es la hora en que acaso nos vemos un poco más al desnudo, a mi en todo caso me pasa, y es penoso y útil; tal vez que otros también aprovechen, nunca se sabe”.
Sensibilidade é a palavra que me vem ao pensar na obra do Timm e na tua homenagem a ela, Zequinha. Beijos
ResponderExcluir"Infinito importar-se" - como pode o ZK, com essa sensibilidade toda, não ter-(se) tornado (ainda) um escritor? Ou estamos às voltas com um escritor que (ainda) não quer tornar públicas suas obras literárias???
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