"Perelman é doido, ou entendeu tudo?
EM 2008, quando Lady Gaga gravou seu primeiro álbum, já se tinham passados seis anos do dia em que Grigori Perelman resolvera a Conjectura de Poincaré, um dos maiores mistérios da matemática. Num mundo que consome celebridades, a história de Perelman merece cinco minutos de atenção.
Ele é um matemático russo, de 43 anos, já passou meses sem trocar de roupa, raramente corta as unhas, a barba ou o cabelo. Vive com a mãe em São Petersburgo, tem horror a jornalistas e viveu sete anos praticamente recluso. Nem e-mails respondia. Quando esteve nos Estados Unidos, a base de sua alimentação era pão preto e iogurte. Recusou cátedras nas universidades de Princeton, Berkeley, Stanford e no MIT. É um excêntrico, mas é um excêntrico que tem bastante a ensinar. Até que ponto vive-se melhor parecendo maluco do que deixando-se bafejar pela celebridade?
Superando ciúmes, intrigas e rivalidades, Perelman acaba de conquistar o prêmio dos "Problemas do Milênio", com direito a um cheque de US$ 1 milhão, concedido por uma fundação americana, por ter decifrado um dos sete grandes mistérios da matemática. Em 2006, ofereceram-lhe um honraria considerada equivalente a um Nobel de matemática. Recusou-a.
Para os leigos (como o signatário), a Conjectura de Poincaré é algo incompreensível. Ainda assim, pode-se perceber que Poincaré, um matemático francês que morreu em 1912, deixou para o mundo uma conjectura. Mais difícil será entender o que significa o segundo mistério: "A existência de Yang-Mills e a falha na massa".
Perelman resolveu a conjectura em 2002. Em vez de mandar seu trabalho para uma revista científica, onde um painel de estudiosos estudaria a consistência dos argumentos, simplesmente jogou os textos na internet, num arquivo público de trabalhos acadêmicos. O trabalho não dizia que a conjectura havia sido resolvida, essa tarefa cabia a quem o lesse. (Um matemático gastou três meses para entendê-lo.) A comunidade dos sábios consumiu dois anos estudando, invejando e, em alguns casos, buscando uma falha na explicação. Perda de tempo.
Quando Perelman foi convidado por Princeton, pediram-lhe um currículo. Respondeu que, se não sabiam quem ele era, não deveriam convidá-lo. Como o MIT chamou-o depois que resolveu a Conjectura de Poincaré, recusou porque deveriam tê-lo chamado antes. Num último convite podia ganhar quanto quisesse e fazer o que quisesse durante o tempo que bem entendesse. Respondeu que estava comprometido com seus alunos do ensino médio de São Petersburgo, o que nem era verdade.
Perelman ofendeu-se quando o "New York Times" disse que ele sustentava que resolvera a conjectura para ganhar US$ 1 milhão. Afinal, estudava o problema muito antes de o prêmio surgir e não sustentava coisa alguma. Decifrara a Conjectura de Poincaré, ponto.
Perelman é um matemático excêntrico e, pensando-se bem, Lady Gaga é uma roque ira quase convencional. Assim as coisas ficam fáceis e pode-se ir em paz ao próximo show. Contudo o mundo fica mais interessante quando se sabe que o negócio de Perelman é outro. Os matemáticos podem viver num mundo de liberdade e rigor absolutos. Ele escolheu uma vida de total integridade, sem concessões a coisa alguma. Ninguém manda nele, só a matemática, num diálogo que dispensa outras vozes."
Incompreendido como todo o Gênio
ResponderExcluirEntrou para minha galeria de Respeitáveis, logo abaixo do Maradona e um pouquinho acima do Romário.
ResponderExcluirhttp://www.nytimes.com/2009/12/13/books/review/Hoffman-t.html
ResponderExcluirPois é, dos problemas do Hilbert parece que falta desde 2003 só a conjetura de Riemann - quem se habilita à medalha Fields (o Nobel da matemática)? Tem que ter menos de 40 anos de idade, senão não ganha o prêmio mesmo se resolver o problema. Para começar: du SAUTOY, Marcus. A música dos números primos - a história de um problema não resolvido na matemática, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
ResponderExcluirEXCEPCIONAL o livro indicado pelo Timm! Segui a dica de leitura e não me arrependi por nem meia página.
ResponderExcluirCom todo o respeito às opiniões contrárias... Qual a genialidade de um diálogo que dispensa outras vozes?
ResponderExcluirQual a genialidade em negar o convite de Universidades onde poderia compartilhar seus conhecimentos?
Um egocêntrico. EGOísta.
Acho que concordo com o Felipe. Achei o cara um chato. Simpatizei um pouco com toda a característica anticomercial dele, mas que está intimamente ligada à sua característica "antidialogal", ou seja...
ResponderExcluiré o homem mais inteligente do mundo, vive como mendigo,e rejeitou dinheiro, nao da para entender o conceito de inteligencia para a humanidade.se inteligencia e isso, prefiro ser brasileiro pobre, mais rico espiritualmente.
ResponderExcluirO Perelman publicou seus resultados no arxiv ao invés de vender a alguma revista indexada e é egoísta?
ResponderExcluirEnquanto não tinha o assédio da mídia, davas aulas na Rússia, e só parou porque tonou-se insuportável a falta de ética de seus colegas de departamento, e é egoísta? O cara faz o que quer da vida, se não quer receber dinheiro, qual o problema? Se não quer ir para Princeton, Havard, qual o problema?
Ademais, essas excentridades, não tomar banho, cortar unhas e blá blá blá são lendas! Em maior parte criadas pela mídia sensacionalista que quer criar um áurea de loucura ao redor de qualquer gênio que aparece!