Quem acompanha o Antiblog já leu inúmeros posts sobre ensino, papel do docente e aprendizado na sociedade atual.
Inúmeros fatos do cotidiano acadêmico me deixam muito triste e, em determinados momentos, decepcionado com a docência. Sobretudo pela forma como determinadas relações, pessoais e institucionais, se consolidam.
A última semana demonstrou, vez mais, como certos processos acadêmicos se tornam antipedagógicos e, até mesmo, cruéis. Mas não escreverei sobre isso.
Escrevo este post para compartilhar minha extrema satisfação em ter participado de três bancas de dissertação de mestrado que, ao meu ver, dão a exata dimensão do que penso deva ser a academia.
As bancas do Alexandre Pandolfo, do Marcelo Mayora e da Carla Alimena, que compartilhei com os professores Ricardo Timm, Sardi, José Carlos Moreira da Silva Filho, Vera Andrade, Rodrigo Azevedo, Ney Fayet Jr e Ricardo Aronne, encerraram produtivos e saudáveis encontros de ensino e de aprendizado mútuos.
Desde o meu ponto de vista, orientação é, acima de tudo, encontro. Encontro para trocas, para aprendizado mútuo, para consolidação de cumplicidades.
Isto porque a 'orientação' inicia, necessariamente, a partir da identificação entre as perspectivas teóricas do orientador e do orientando. No entanto, ao longo do processo, a consolidação de uma certa identidade entre orientador e orientando cria situação de cumplicidade que permite que ambos sejam avaliados pela banca. Para além da avaliação do trabalho que está sendo defendido, a banca avalia o processo de orientação, ou seja, este encontro entre orientando e orientador que emerge no trabalho. Por isso as eventuais críticas e os elogios nunca são exclusivamente ao trabalho, ao orientando ou ao orientador, mas à forma pela qual orientador e orientando estabeleceram e sustentaram (ou não), durante o período acadêmico, este encontro. O trabalho final, repito, inexoravelmente reflete o (des)encontro que foi realizado por ambos.
As dissertações do Pan sobre a 'forma mentis' violenta do saber criminológico, do Mayora sobre a intervenção penal na cultura das drogas e da Carla sobre o entrelaçamento entre criminologias e feminismos, são exemplos de processos de orientação férteis que resultaram trabalhos finais excelentes.
10 comentários:
Infelizmente a orientação em nosso país é quase "mediúnica".
Em tempos de internet tudo piora...
E assim, quem era para ser parceiro, torna-se um leitor de última hora e um nome na capa.
Outro ponto, que acho que complica um pouco, é a faculdade, por vezes, escolher o orientador.
Pode ocorrer do santo não bater e o trabalho não caminhar.
Mas aos poucos, com pessoas como vc e seus parceiros, de grão em grão, teremos dias melhores na educação do nosso país.
Abço,
Salinho, tenho orgulho de ti parceiro. Leva a Academia a sério. Faz ciência. Já assisti vários orientandos virarem gente grande e o time não para de crescer. Abs, parabéns aos piás.
Fiquei absurdamente feliz com a banca e com o desfecho da experiência maravilhosa que foi a construção conjunta da dissertação. ABRAÇÃO
Três excelentes bancas que não teriam sido possíveis sem o apoio de um professor ousado, criativo e preparado. E tb alunos fantásticos.
Parabéns pelo link da "pirataria". Realmente acho que esse gesto vale muito contra a hipocrisia de alguns que defendem a "justiça" desde que não atinja meu iate.
Reitero meus cumprimentos ao Timm e ao Ney pela orientacao do Pan e da Carla. E tb cumprimento a mim e ao Mayora pelo trabalho - he he he
valeu Beta.
Salo,
Eu tenho uma opinião sobre a orientação que vai um pouco na tua linha. A avaliação não é do orientador ou do orientando e sim do trabalho em si. Há que despersonalizar. No entanto, o trabalho é resultado, sim, de uma "parceria" entre ambos. O resultado final, todavia, quando tudo sai bem, escapa do controle e toma forma própria. Esses são as boas dissertações, teses, monografias. Estou curiosíssimo por ler as que você indicou. Parecem-me ter sido fruto desse processo.
Ah, só para não escapar: a figura que você usou para esse post é chamada Autopoiese, sabia? É capa da tese do Transconstitucionalismo, do Marcelo Neves, e famosíssima entre esses abomináveis autopoiéticos... É quase que um sinal de reconhecimento dentre os membros dessa seita...hehehe
T+
Germano
Uma das mais belas transferências.
Crítica, que só se faz com liberdade e também amor.
Pena estar no PR, que apesar da UFPR, nunca vai ter uma estilo PUC/RS.
"O inferno são os doutos."
Germano, não sabia do título da capa. Qdo procuro uma imagem o faço por uma palavra-chave. No caso, deve ter sido orientação ou encontro.
Em relação ao Marcelo Neves, desceu muito no mei conceito quando, na PUC, este ano, resolveu falar de temas que não tinha nenhuma noção - no caso, garantismo.
Salo,
Toca autopoiese no google imagens. É o que aparecerá.
Valeu pelas dicas. Estamos aproveitando todas.
Abraços
Germano
Postar um comentário