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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Caso Kiss, Santa Maria

Na época do acidente me manifestei muito sobre o que estava ocorrendo.
Isto porque me considero santamariense. Embora não tenha nascido na cidade, vivi e vivo muito nesta terra. Meus amigos e minhas referências afetivas e intelectuais, praticamente todas, de alguma forma, passam por Santa Maria. 
Nos dois últimos anos (2011 e 2012), movido apenas pelo desejo, lecionei como professor colaborador (voluntário, sem remuneração alguma) na UFSM, instituição que tenho um carinho imenso.
Por casualidade, iniciei as aulas logo após o acidente e pude acompanhar a dor de toda a cidade. Mais do que dor, a perplexidade.
No meu caso, a questão tomou uma dimensão muito sensível porque me considerava evolvido por todos os lados: conheci vítimas e conheço aguns familiares; conheço, desde há muito tempo, os sócios da Kiss e os seus familiares; conheço os advogados e os servidores públicos envolvidos no caso; conheço inúmeros médicos que prestaram atendimento naquele dia trágico - dentre eles a minha irmã do coração Clarissa Couto de Mello, que realizou um trabalho sem precedentes, além de uma série de amigos que se envolveram diretamente no amparo das vítimas e familiares Nana Couto de MelloAline BäumerRodrigo RitzelFernanda Maffi dentre inúmeros outros.
Na Faculdade, discutindo com os alunos, ouvindo relatos e trocando experiências com amigos e vários desconhecidos, cheguei a uma conclusão que penso ser assustadora, mas que pode ser o início de uma nova forma de compreensão do problema: em um caso extremo como esse, não há Justiça possível. Qualquer que seja o resultado, será um resultado injusto. Pena máxima: injustiça; pena mínima: injustiça; pena ponderada: injustiça; ausência de pena: injustiça; indenização: injustiça.
Não há Justiça possível em casos extremos desta natureza.
E a Justiça, como instituição e poder, se sempre chega atrasada (mesmo nos casos mais simples), num caso destas dimensões não tem sequer a possibilidade de chegar [digo chegar em um ponto em que seja possível realizar Justiça].
O triste é pensar que a maioria das pessoas reduz o sentido de Justiça a uma imagem desbotada e sem muito sentido: pena-cárcere.
Eis o trágico das relações humanas.
A charge foi publicada na Revista "O Viés: jornalismo a contrapelo", de Santa Mari, e inspirou o post.
http://www.revistaovies.com/destaque/2015/01/a-vida-tem-que-continuar/