Comecei minha militância no movimento estudantil, na época do "primeiro grau" (hoje ensino fundamental), na sétima série. Participei, em 84 e 85, ainda garoto, de reuniões da USE (União Santamariense de Estudantes), no porão da antiga sede da Rua do Acampamento.
Na época lançamos uma chapa para o Grêmio Estudantil do Colégio Centenário. A Presidente era a Ana Lucia Araujo On-break (hoje professora na Howard University, em Washington), historiadora e especialista em memória da escravidão. Eu era o vice. Não sei se tínhamos consciência das questões de gênero, mas esta era a formatação da chapa que tinha um pretensioso nome: "Começando por Aqui". Ana era a líder da nossa turma. Sempre nos representou.
Lembro, como se fosse hoje, da noite que fomos pixar o muro em frente ao colégio. A adrenalina daquele "ato subversivo" era entusiasmante. Eu já tinha alguma experiência, adquirida das noites de colagem de cartazes, quando era roadie da banda Thanos, embrião da icônica Fuga.
Naquele momento a Ditadura agonizava. Os militares estavam "largando o osso". O Gen. Figueiredo havia cedido. Mas o Congresso conservador, formado, em grande parte, por políticos aliados aos militares (ARENA), não admitia as eleições diretas. Tentaram, até o último minuto, garantir a posse de Maluf. A vitória da Democracia ocorre no formalismo das eleições indiretas.
Logo em seguida, Britto anuncia a morte de Tancredo em rede nacional. Assume Sarney, depois Collor. A história é conhecida.
Mas o que lembro deste período é que a Democracia era algo que conseguíamos tocar. E era entusiasmante. Algo muito novo. Jovem como nós, que desejávamos tudo de diferente daquilo que nossos pais viveram. Geração que queria liberdade para fazer "o que desse na telha". Inclusive de abdicar da caretice da política.
O inimigo que tínhamos em comum, os militares, representava algo maior: era o símbolo de toda as formas de repressão.
Hoje leio as postagens dos meus queridos amigos dos anos 80, colegas do Centenário e do Cilon Rosa. Manifestam-se com entusiasmo sobre o que está acontecendo no Brasil. Alguns com posições muito distintas da minha. Outros, com uma sintonia linda e assustadora.
Opiniões distintas; posições diversas.
Mas sinto que para além das divergências resta uma amizade inabalável, pois talvez o que tenhamos aprendido naquele momento de ruptura foi de que a Democracia só é possível com afeto, com respeito. Algo que, infelizmente, nesse momento de polarização, é o que menos se vê. E se há algo que deve ser retomado, com urgência, são os afetos.
Acho que em momentos como o atual, só a memória nos salva. Só a memória me salva e dá força para seguir lutando por uma sociedade mais justa, menos desigual.
A postagem ficou longa, ganhou uma tonalidade demasiado emotiva, piegas em alguns momentos, confesso.
Mas reflete muito as minhas desilusões com o nosso cenário político.
Na época lançamos uma chapa para o Grêmio Estudantil do Colégio Centenário. A Presidente era a Ana Lucia Araujo On-break (hoje professora na Howard University, em Washington), historiadora e especialista em memória da escravidão. Eu era o vice. Não sei se tínhamos consciência das questões de gênero, mas esta era a formatação da chapa que tinha um pretensioso nome: "Começando por Aqui". Ana era a líder da nossa turma. Sempre nos representou.
Lembro, como se fosse hoje, da noite que fomos pixar o muro em frente ao colégio. A adrenalina daquele "ato subversivo" era entusiasmante. Eu já tinha alguma experiência, adquirida das noites de colagem de cartazes, quando era roadie da banda Thanos, embrião da icônica Fuga.
Naquele momento a Ditadura agonizava. Os militares estavam "largando o osso". O Gen. Figueiredo havia cedido. Mas o Congresso conservador, formado, em grande parte, por políticos aliados aos militares (ARENA), não admitia as eleições diretas. Tentaram, até o último minuto, garantir a posse de Maluf. A vitória da Democracia ocorre no formalismo das eleições indiretas.
Logo em seguida, Britto anuncia a morte de Tancredo em rede nacional. Assume Sarney, depois Collor. A história é conhecida.
Mas o que lembro deste período é que a Democracia era algo que conseguíamos tocar. E era entusiasmante. Algo muito novo. Jovem como nós, que desejávamos tudo de diferente daquilo que nossos pais viveram. Geração que queria liberdade para fazer "o que desse na telha". Inclusive de abdicar da caretice da política.
O inimigo que tínhamos em comum, os militares, representava algo maior: era o símbolo de toda as formas de repressão.
Hoje leio as postagens dos meus queridos amigos dos anos 80, colegas do Centenário e do Cilon Rosa. Manifestam-se com entusiasmo sobre o que está acontecendo no Brasil. Alguns com posições muito distintas da minha. Outros, com uma sintonia linda e assustadora.
Opiniões distintas; posições diversas.
Mas sinto que para além das divergências resta uma amizade inabalável, pois talvez o que tenhamos aprendido naquele momento de ruptura foi de que a Democracia só é possível com afeto, com respeito. Algo que, infelizmente, nesse momento de polarização, é o que menos se vê. E se há algo que deve ser retomado, com urgência, são os afetos.
Acho que em momentos como o atual, só a memória nos salva. Só a memória me salva e dá força para seguir lutando por uma sociedade mais justa, menos desigual.
A postagem ficou longa, ganhou uma tonalidade demasiado emotiva, piegas em alguns momentos, confesso.
Mas reflete muito as minhas desilusões com o nosso cenário político.
4 comentários:
Grande companheiro Salo...
Descobri seu antiblog recentemente e faço dele minha leitura diária.
Este texto me fez recordar...
Abraço !
Arno Cassel
forte abraço, Arno!
Salo, que reflexão maravilhosa! Sou militante (de movimentos sociais e do movimento estudantil da USP desde a graduação). Descobri você como uma referência fazendo minha dissertação de mestrado, tenho devorado o que você escreve, e digo devorado porque suas palavras são deliciosas e me fazem crer em mundo humanamente mais justo! Um abraço.
valeu Bruno!
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