Livros e Artigos

[disponibilizo livros e artigos para download em Academia.edu e Scribd]

Páginas

sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre Punitivismos e Discursos sobre a Impunidade

Recentemente a imprensa mundial divulgou a execução de uma mulher iraniana à morte por apedrejamento.
A pena foi imposta em decorrência de sentença condenatória pelo crime de adultério.
Imagino os empresários morais iranianos defendendo esta espécie de condenação:
"Se não aplicarmos o apedrejamento, teremos uma grande sensação de impunidade no Irã."
"Não podemos deixar de aplicar o apedrejamento sob pena de aumento da criminalidade."
"Se o apedrejamento for abolido, as mulheres não terão limites para trair seus maridos."
"A pena de apedrejamento é a melhor forma de proteger o bem jurídico 'honra familiar'."
"Os garantistas iranianos que defendem o fim do apedrejamento não pensam nas vítimas do crime, são demasiado tolerantes com o adultério."
"Temos que nos preocupar com os direitos humanos do homem traído, não com benesses à criminosa."
Por outro lado, um digno professor universitário apresentará uma tese demonstrando que estas mulheres adúlteras possuem um severo déficit neurológio. Em decorrência de uma má formação das sinapses, acabam sendo pré-dispostas à traição e à ofensa aos valores familiares. Muito provavelmente o pesquisador receberá importantes fundos para validar instrumentos de pesquisa desenvolvidos na metrópole. Assim, sua pesquisa auxiliará à universalização dos critérios 'científicos' de análise do crime de adultério, projetando novas investigações sobre os motivos pelos quais as mulheres agem desta forma.
É caricato, sem dúvida, mas ao mesmo tempo revelador da nossa lógica punitivista e da 'neutralidade' do nosso saber científico.
E quem nunca pecou que atire as primeiras pedras.

2 comentários:

Clarissa de Baumont disse...

...excelente. (só isso =) )

Jan disse...

vupt! vupt!