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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sobre Lava-Jatos, Corrupções e Corruptores (reflexões em uma segunda-feira de manhã)

Quem estuda (no meu caso, há 20 anos) a política criminal de drogas, sabe que não existe tráfico sem as condições ideais do comércio ilegal fornecidas pela própria polícia, em tese o seu principal "inimigo". Tráfico e corrupção policial são fenômenos dependentes.
Quem trabalha (no meu caso, há 15 anos) na advocacia criminal, sabe que inexiste corrupção no setor público sem as condições ideais fornecidas pelas empresas do setor privado. São, igualmente, atividades dependentes.
Por isso é, por vários motivos, cômico, ver os discursos dos empresários (morais) contra a corrupção. Refiro, p. ex., as "marchas" das "pessoas de bem", deste final de semana.

Não é difícil perceber, portanto, que nenhuma empresa privada faz doações aos partidos políticos por identificação ideológica. Exatamente por isso, os grandes grupos empresariais são ideologicamente promíscuos e financiam todos os partidos com possibilidade de êxito eleitoral. A conta é cobrada, com pesados juros, ao longo dos mandatos. Até aqui nenhuma novidade.
Mas eu gostaria de chamar atenção, neste post, para a reportagem do diária da província (Zero Hora) de hoje, página 14. No quadro elaborado pelo periódico estão os candidatos à Assembleia, estadual e federal, beneficiados com doações das empresas envolvidas no escândalo. Dentre os maiores beneficiados, no âmbito federal: Paulo Pimenta (PT), R$ 285 mil, e Osmar Terra (PMDB), R$ 190 mil. No âmbito estadual: Regina Fortunati (PDT), R$ 100 mil, e Enio Bacci (PDT), Alvaro Boessio (PMB), Gabriel de Souza (PMDB), R$ 50 mil, Detalhe: praticamente todos os partidos receberam doações, inclusive aqueles que histericamente denunciam "o maior escândalo de corrupção do país": o PSDB recebeu, no estado, segundo as informações do jornal, R$ 130 mil da Odebrecht, p. ex.
Como exercício político eleitoral pós-eleições, fui conferir os candidatos em quem votei para os Governos estadual e federal (Luciana Genro e Roberto Robaina) e para as Assembleias federal e estadual (Pedro Ruas e Lucas Maróstica) e não os encontrei na lista. Nenhuma novidade, pois o PSOL não aceita doações de empresas.
A propósito, para quem estuda (no meu caso, há 20 anos) os processos de criminalização da miséria e de encarceramento massivo da juventude negra brasileira, a prisão dos diretores das empreiteiras não me comoveu nenhum pouco - o problema não é não se comover, mas gozar com as prisões. E, conforme venho indicando em al
guns posts sobre a esquerda punitiva, penso que é necessário reproblematizar a tese de que tais prisões efetivamente relegitimam o sistema punitivo. Talvez tais ações possam ser uma forma de "sensibilizar" as elites em relação à sua imunidade aos processos de criminalização; talvez seja uma forma de fissurar, desde dentro, a lógica seletiva, sexista, racista e homofóbica que sustenta o carcerário. Lembrando Gramsci: as rupturas não são provocadas apenas por "guerra de movimento", mas também por "guerra de posições". Apenas algumas problematizações, sem deixar nenhuma questão "fechada".
Boa semana para todos nós.