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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Empresários e Pânicos Morais em Dois Atos

1o. Ato.
Ainda existem professores que acreditam que a Criminologia é apenas uma crítica ao Direito Penal, ou seja, que se limita a ser a consciência crítica da estrutura normativa. Vício decorrente da consolidação de uma importante linha da Criminologia Crítica, mas que precisa, urgentemente, fazer autocrítica.
Para aqueles que estudam Criminologia, o fenômeno dos pânicos morais (Becker e Cohen) não é nenhuma novidade. Muito menos a forma pela qual os empresários morais produzem pânicos morais em eventos espetaculares, como a atual "guerra no Rio".
A propósito, vivenciamos uma época de consolidação de guerras sem fim (guerra às drogas, ao terrorismo, à criminalidade). E para quem consegue perceber que as "palavras dizem coisas", que os "símbolos constróem campos de significados" e que o "inconsciente se estrutura como linguagem" - tudo bem, fui longe na psicanálise lacaniana na última referência - a imagem de guerra efetivamente define formas de atuação das agências do sistema penal.

2o. Ato.
Ontem de noite assisti dois programas de televisão simultaneamente, ambos sobre "o problema do Rio."
No Roda Viva (TVE), o Luis Eduardo Soares demonstrou com todos os argumentos e dados empíricos possíveis que o tráfico de entorpecentes é uma empresa em franca decadência e que a política de guerra às drogas é uma equivocada ação que gera, exclusivamente, dor e encarceramento massivos. Resta claro que após 30 anos de war on drugs o saldo é contabilizado em injustificáveis mortes de policiais, de suspeitos e da população civil que habita zonas de vulnerabilidade. "Não há tráfico sem a conivência dos Poderes Públicos"; "temos que reformar, urgentemente, nossas Polícias", ressaltou, vez mais, o antropólogo.
O entrevistadores, atentos, se espantavam com cada dado relativo ao fracasso da política de drogas. Dados que a Criminologia, sobretudo a Crítica, apresenta desde o final da década de 80.
No mesmo horário, na Província de São Pedro, em programa de grande repercussão regional, o criminólogo Rodrigo G. Azevedo tentava expor argumentos antiproibicionistas e o problema que a criminalização das drogas tem gerado na sociedade brasileira. No entanto, o âncora do programa - e esta imagem é emblemática pois o substantivo significa "peça de aço com dois ou mais bicos, presa a um cabo ou a uma corrente, para fixar o navio" (Dicionário Aurélio) -, visivelmente incomodado com o discurso extramoral, impedia qualquer desenvolvimento da argumentação. "Alternativas, nem pensar"; "que o barco fique preso neste modelo", era o que o seu silêncio ecoava.
E segue a imprensa marron acreditando nas fantasias produzidas pelos discursos legitimadores do sistema penal.
E segue a imprensa marron proliferando pânicos morais.

["Eu acredito em Duendes", frase cunhada por Lasier Martins]

14 comentários:

Marcelo Mayora disse...

Lasier, promotor taipa, delegado corporativista, político de gel no cabelo... E o Rodrigo resistindo e, mais importante, atacando, em meio aos obscurantistas.

Marcelo Mayora disse...

Já a Marília Gabriela, é uma Hebe melhorada.

Anônimo disse...

O problema não está nas drogas, mas na política. Não adianta alterar o enfoque, citar o despreparo e a violência da polícia ou a legalização da maconha. É cediço que o mal do Brasil (e de outros Estados) está no Poder Legislativo, nos três níveis. Enquanto adotarmos uma postura permissiva, chancelando a diplomação de tiriricas e "mulheres bunda", nada irá mudar. A legalização das drogas somente iria adiar a solução do já precário estado da sociedade tupiniquim, pois os grandes tubarões não estão nos morros e, sim, nas coberturas e mansões dos bairros de luxo cariocas. Alguém duvida que o digníssimo sr. Sérgio Cabral não está envolvido com os últimos acontecimentos? Que dizer dos gloriosos deputados estaduais e vereadores? Todos sabem que as favelas são redutos eleitoreiros. É melhor manter traficantes para coagir a população a votar a seu favor do que perder a boquinha nas farras proporcionadas pela maravilhosa vida política brasileira.

Gustavo Ávila disse...

Bem, existe franquia deste programa em Floripa também. Em 2008, participei, o tema era "os 60 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos". Não só era interrompido a todo instante, como também o câmera, a cada vez que me focava, balançava a cabeca como um pêndulo (o corpo dizia que "não"). Dose.

Anônimo disse...

"Assim como "grupos","impostos", "Estado forte","crime", "Guerra às Drogas" e "reforma da previdência" funcionam como linguagem em códigos que permitiu aos dirigentes políticos fomentar e recrutar as forças da reação social e de classe no campo político, servem para designar (e denunciar) os negros turbulentos e não merecedores, sem ter que apelar para uma linguagem visivelmente de "cor". Assimilar o gueto a extrema pobreza sem menção a seus alicerces etnorraciais faz parte, se não de uma iniciativa intelectual reacional ou reacionária..." - Loic Wacquant, As duas faces do gueto, p.73 -
GMB

j. disse...

Que referências lacanianas, que nada, tio Salo.
Boa mesmo é essa foto aí do Papai Noel. Significando mais que nunca, eu sempre soube que esse(s) velhinho(s) de boa gente não tem nada! ahahaha

Helena Costa Franco disse...

Lasier certamente ainda acredita no Papai Noel... Não assisto mais ao Conversas Cruzadas por absoluta falta de paciência de aguentar o âncora...

Moysés Neto disse...

Queria muito ver esse vídeo do Rodrigo....

Achutti disse...

tb fiquei só na vontade, tava em aula.

Thiago disse...

No rádio o nosso som
Tem magia nossa cor
Nossa cor marrom
Marrom bombom...

Marrom bombom
Marrom bombom
Nossa cor marrom...(4x)

Mari disse...

O Rodrigo MATOU a pau!!!

Mari Garcia disse...

O âncora acredita no Papai Noel e no Direito Penal...hohohoho

"(...)as duas grandes engrenagens da emoção coletiva - droga e insegurança urbana- continuaram, nos anos que sucederam a reforma, a criar uma espécie de cordão em torno dos jovens distribuidores de drogas das favelas e dos bairros pobres do Rio. A força destas engrenangens fez com que, aos olhos da opinião pública manipulada pela Rede Globo, aquela marcada pelo binômio "droga insegurança" continuasse sendo uma espécie de zona franca em meio a reforma. (...)" [BARATTA in prefácio de Difíceis Ganhos Fáceis de Vera Malaguti Batista]

Anônimo disse...

Papai noel não merece isso .. é assédio, tortura....

Clarissa de Baumont disse...

hahaha! ousadia ótima publicar essa foto.

honestamente, o velhinho de vermelho parece infinitamente mais simpático.