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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Livros, Mudanças e Polêmicas

A primeira vez foi quando toda a família rumou de Passo Fundo para Panambi, quando o pai assumiu na Magistratura. Logo depois para Guaporé e Santa Maria. Depois de muito tempo (ao menos naquela época), de Santa Maria fomos para Porto Alegre. 
Fui morar sozinho depois da Faculdade, quando fui para Florianópolis fazer Mestrado. Voltei para Porto, quando fiquei um tempo no apto do pai - naquele momento quem fazia Mestrado era ele, em La Rábida. Depois o Doutorado em Curitiba e, na sequencia, as pesquisas em Roma. Ao retornar para Porto fiquei um semestre na casa na mãe até comprar o meu primeiro apartamento, na Felipe Camarão. 
Da Felipe Camarão para a Anita Garibaldi. Nos últimos dois anos, depois da Anita, entre a Ramiro Barcelos e a João Wallig. 
Agora, eu e a Mari retomamos o ritual de mudança: encaixotar livros, reformar móveis e habitar novos espaços.
A autorização do senhor da foto foi concedida. Mas eu gostei mesmo foi da sua descrição na Wikipédia: "polemista de discurso agressivo e lógico, no Congresso Republicano (São Paulo, 1889) prevaleceu a tese de uma campanha doutrinária pela imprensa para o advento gradual da República."

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Gozo Necrofílico

Interpretar as reações do público consumidor do sistema penal é uma das funções da Criminologia (crítica).
Mas é triste ver esta espécie de gozo necrofílico - a expressão é do psicanalista Charles Melman, utilizada na obra "O Homem sem Gravidade" -, do senso comum em relação ao excessivo tempo de condenação de uma pessoa ao cárcere, mesmo sendo a pena decorrência de um juízo condenatório aparentemente justo em face da prática de um crime bárbaro. Refiro, logicamente, o caso Eloá. 
Infelizmente a incorporação do punitivismo faz com que as pessoas tenham prazer (gozo) com a barbárie. E este gozo não é apenas com a rigidez da condenação. É um gozo irrestrito com todas as formas de violência: a violência da crueldade da pena e a violência bárbara do delito. 
Sob a máscara hipócrita da proteção da vítima, o julgamento e o delito foram transformados em espetáculos mórbidos, consumidos naturalmente pelas pessoas ordeiras na sala de jantar, enquanto deixavam soltos os leões e os tigres no quintal. Tudo em nome da satisfação orgástica da horda (platéia geralmente anônima), ocupada em nascer e fazer morrer.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Intelectualidade Colonizada



A intelectualidade colonizada
por Ricardo Timm de Souza

“Não há dois cerros iguais, mas em qualquer
lugar da terra a planície é uma e a mesma.”
J. L. Borges

Tanto já se escreveu sobre esse assunto e, não obstante, a ele é necessário retornar com a cadência proporcional a seus espasmos de mediocridade.
 A intelectualidade colonizada parte de um princípio intocável: uma torturante hipermetropia, que faz com que apenas o que de muito distante se divisa, de preferência com alguma auréola midiática, possa, em seu entender, fazer sentido e ter relevância. Colonizada que é, é habitada por um sentimento atávico de subserviência em todos os sentidos desse termo. O intelectual colonizado – um burocrata da mais empedernida cepa -, incapaz de ver o que realmente acontece, de tanto acreditar nos silogismos formais, acaba sempre, agora mesmo, de dar a última demão edulcorada na moda mais rasteira. Sem perceber ou querer perceber a que senhor serve, movimenta-se ao sabor dos ventos como a craca incrustrada num pedaço de madeira velha errante no mar. Seu pesadelo é sua insegurança congênita, e seu sonho aninhar-se no estabelecido; quisto na existência, como o preconceituoso de Sartre, “por menor que seja faz questão de abaixar-se ainda mais, para não se destacar da multidão de seus iguais, sem os quais não existe”. A mentalidade colonizada não é uma questão geográfica, mas uma atitude frente ao real; poroso em excesso, o cérebro do intelectual colonizado não processa senão o que se lhe apresenta já sem arestas ou dificuldades no novo. Odradek do status quo, zumbi das idéias, vive seu modesto delírio num gozo quase perverso – a perversão exigiria uma grandeza que ele não tem. Optou pelas formas em detrimento dos conteúdos, pois é tudo que sua inteligência lhe permite; tomou por exemplo os fungos e multiplica-se continuamente, pois é só o que sabe fazer. E pensa que vive.

Medicalização do Ócio Juvenil

Os fatos foram narrados no jornal Zero Hora (leia aqui).
A juíza da Vara da Infância e da Juventude, ao perceber que jovens que prestavam depoimento estavam nitidamente medicados, oficiou a FASE, para obter informações. 
Em resposta, o psiquiatra responsável responde: “(...) por que medicar se em sua maioria não são doentes? Não há como colocar que nossa clientela é doente mental em proporcionalidade maior que a preconizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Então por que se medica tanto na Fase? A resposta é simples e definida em uma única palavra: ÓCIO.”
A medicação psiquiátrica foi transformada em instrumento de terapia ocupacional. 
Eis o nível do punitivismo provinciano.
E lembre-se da preocupação do nosso Governo estadual com os Direitos Humanos...
A solução, como se imagina, será afastar os bodes expiatórios (psiquiatra e o monitor), para demonstrar aos meios de comunicação que a Secretaria de Direitos Humanos não é conivente com a situação. 
E em duas semanas os meninos voltarão a ser medicados contra o ócio.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Morte ao Método

Disponível na web o número 01, volume 05, da Revista Dilemas, veículo oficial do Instituto de Antropologia e Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Nesta edição foi publicada a tradução que realizei, juntamente com a Simone Hailliot, do artigo Kill Method, de autoria do prof. Jeff Ferrel.
O texto é uma ácida provocação aos metodólogos, sobretudo aqueles identificados com a criminologia ortodoxa.
No sítio da Revista (aqui) é possível baixar gratuitamente o artigo.

Sobre o Positivismo (Criminológico)


"Mas o positivismo não foi apenas uma maneira de pensar, profundamente enraizada na intelligentsia e nas práticas sociais e políticas brasileiras; ele foi principalmente uma maneira de sentir o povo, sempre inferiorizado, patologizado, discriminado e, por fim, criminalizado." (Vera Malaguti Batista)