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domingo, 22 de maio de 2011

Sobre os Sensacionalismos na Mídia Gaúcha

A pesquisa do GCrim sobre Cobertura do Crime e da Criminalidade na imprensa da Província está em pleno andamento.
Percebo, apesar de a pesquisa ainda estar em fase inicial, como a definição de uma metodologia de investigação  relativamente simples altera o olhar e muda a relação entre leitor e veículo.
Notem as chamadas de capa e de contra-capa de Zero Hora de 17 de maio, terça-feira passada.




Na capa, o título "Máfia gaúcha liderava esquema de desvio de verbas da saúde". A reportagem descreve as possíveis fraudes praticadas por algumas empresas situadas no interior da Província em processos de licitação de medicamentos e materiais hospitalares. A identificação dos investigados como grupo mafioso, porém, revela a tonalidade sensacionalista da matéria.




Na contra-capa da mesma edição a chamada da reportagem: "Escolas sitiadas pelo crack." Na linha de apoio a referência de que o assédio de traficantes nas imediações de escolas metropolitanas estaria transformando o entorno das instituições de ensino em zonas de perigo. A imagem, porém, mostra um indigente, encostado no muro da escola, com o que poderia ser um cachimbo - a imagem não é muito nítida sobre isso -, o que indicaria, no máximo, um consumidor de droga.
Dentre as principais características do sensacionalismo, conforme indicam inúmeros criminólogos - baseados, sobretudo, nos estudos de Cohen -, estão a amplificação do problema e a criação de falsas imagens. As imagens e o conteúdo das matérias não correspondem necessariamente com a realidade vivida pelas pessoas, pelo contrário, tendem à sua distorção (grupo mafioso; escola sitiada). No entanto, produzem interessante efeito na proliferação dos medos (máfia, sítio).
Sensacionalismo, segundo o Aurélio, (1) Caráter ou qualidade de sensacional; (2) Tendência a divulgar notícias exageradas ou que causem sensação; (3) Filos. Doutrina ou teoria de que todas as idéias são derivadas unicamente da sensação ou percepções dos sentidos.

8 comentários:

j. disse...

a questão do descompasso entre a chamada, o texto é gritante e essa relação com a IMAGEM que ilustra a reportagem é algo que podemos pensar num próximo passo da pesquisa hein? :P

Clarissa de Baumont disse...

qual a diferença entre uma informação e um juízo de valor? parece que isso não fica bem claro à imprensa.

a verdade é que os juízos de valor estão presentes nos recortes, nas escolhas, e de igual modo nos textos jornalísticos.o mais honesto seria sempre declarar o ponto de vista ao invés de proclamar a imparcialidade impossível.

o problema no sensacionalismo para mim não está no sentir, está no exagero e nas distorções. está em se encaixar algo em conceitos preexistentes em vez de contar uma história existente.

um mágico que mostra um pássaro e faz um truque ao menos me ilude comigo sabendo que é truque; o que me mostra um pano e quer convencer que é pássaro, esse já parte do que não existe para começar seu truque, e esse é o grande problema das inferências jornalísticas.

Unknown disse...

Boa Jan, boa Cissa!

Eduardo Schmidt Jobim disse...

Salo, me questiono sobre esse fenômeno que voces estão estudando. Qual o motivo para "sensacionalizar" esses fatos? Certamente deve ser para gerar medo e criar "inimigos sociais". Mas para que isso? Acredito que seja para venderem depois disso a ilusória segurança contra esses "inimigos sociais". Uma pesquisa interessante a ser feita é o aumento no número de empresas particulares (venda de alarmes, segurança pessoal, etc) especializadas aqui na Província.

Abração,

Dudu

Unknown disse...

Dudu, não sei se há motivo. Não acredito em um complô da mídia. Nem 'vender' jornal creio seja o central. Penso, ao contrário, haver uma racionalidade que nos leva à sensacionalizar as coisas - na imprensa, na academia, na vida em geral.
E quando tratamos com crime(s), esta tendência se potencializa.
Neste aspecto, a mídia apenas amplifica as formas de rotulação que produzimos diariamente.

Clarissa de Baumont disse...

gostei disso aí, Salo! =)

José Mourinho disse...

Muito bem observado. Há tempos a Zero Hora adotou um modelo inglês para os títulos e chamadas - até mesmo no Esporte. Vende mais, né...
Aquela foto do cara tirando um cochilo com um baseado...daí a virar TRAFICANTE de CRACK, é um oceano e meio. E mesmo assim, ele nem parece estar olhando pra piazada boleira. Enfim...

Marcello disse...

E essa reportagem do dia 30 de maio de 2011 da ZH que diz que o réu do caso Glauco não será julgado? Não falam, entretanto, que o mesmo foi considerado inimputável...

http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3330919.xml