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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Medicalização da Sociedade

Manifesto de Lançamento do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade

A sociedade brasileira vive um processo crescente de medicalização de todas as esferas da vida.
Entende-se por medicalização o processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes ordens são apresentados como “doenças”, “transtornos”, “distúrbios” que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas. Questões coletivas são tomadas como individuais; problemas sociais e políticos são tornados biológicos. Nesse processo, que gera sofrimento psíquico, a pessoa e sua família são responsabilizadas pelos problemas, enquanto governos, autoridades e profissionais são eximidos de suas responsabilidades.
Uma vez classificadas como “doentes”, as pessoas tornam-se “pacientes” e consequentemente “consumidoras” de tratamentos, terapias e medicamentos, que transformam o seu próprio corpo no alvo dos problemas que, na lógica medicalizante, deverão ser sanados individualmente.  Muitas vezes, famílias, profissionais, autoridades, governantes e formuladores de políticas eximem-se de sua responsabilidade quanto às questões sociais: as pessoas é que têm “problemas”, são “disfuncionais”, “não se adaptam”, são “doentes” e são, até mesmo, judicializadas. 
A aprendizagem e os modos de ser e agir – campos de grande complexidade e diversidade – têm sido alvos preferenciais da medicalização. Cabe destacar que, historicamente, é a partir de insatisfações e questionamentos que se constituem possibilidades de mudança nas formas de ordenação social e de superação de preconceitos e desigualdades.
O estigma da “doença” faz uma segunda exclusão dos já excluídos – social, afetiva, educacionalmente – protegida por discursos de inclusão. A medicalização tem assim cumprido o papel de controlar e submeter pessoas, abafando questionamentos e desconfortos; cumpre, inclusive, o papel ainda mais perverso de ocultar violências físicas e psicológicas, transformando essas pessoas em “portadores de distúrbios de comportamento e de aprendizagem”. 
No Brasil, a crítica e o enfrentamento dos processos de medicalização ainda são muito incipientes. 
É neste contexto que se constitui o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, que tem como objetivos: articular entidades, grupos e pessoas para o enfrentamento e superação do fenômeno da medicalização, bem como mobilizar a sociedade para a crítica à medicalização da aprendizagem e do comportamento. O caráter do Fórum é político e de atuação permanente, constituindo-se a partir da qualidade da articulação de seus participantes e suas decisões serão tomadas, preferencialmente, por consenso. É composto por entidades, movimentos e pessoas que tenham interesse no tema e afinidade com os objetivos do Fórum.
O Fórum se fundamenta nos seguintes princípios:
a. Contra os processos de medicalização da vida.
b. Defesa das pessoas que vivenciam processos de medicalização.
c. Defesa dos Direitos Humanos.
d. Defesa do Estatuto da Criança e Adolescente.
e. Direito à Educação pública, gratuita, democrática, laica, de qualidade e socialmente referenciada para todas e todos.
f. Direito à Saúde e defesa do Sistema Único de Saúde – SUS e seus princípios.
g. Respeito à diversidade e à singularidade, em especial, nos processos de aprendizagem.
h. Valorização da compreensão do fenômeno medicalização em abordagem interdisciplinar. 
i. Valorização da participação popular. 

São Paulo, 13 de novembro de 2010

Entidades que assinam o Manifesto até o momento:
Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – CRP-06
Grupo Interinstitucional Queixa Escolar - GIQE
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional - ABRAPEE 
Rede Humaniza Sistema Único de Saúde 
Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente de São Paulo - CONDECA
Departamento de Pediatria - Faculdade Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas –- UNICAMP
Faculdade São Bento da Bahia – Curso de Psicologia
Faculdade Social da Bahia – Curso de Psicologia
Fórum de Saúde Mental do Butantã
Anhanguera Educacional
Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo - SINPSI
Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro – CRP 05
Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo -SINPEEM
Mandato do Vereador Eliseu Gabriel
Mandato do Vereador Claudio Fonseca
Colégio Universitas - Ensino Médio – Santos, SP
Universidade Estadual de Maringá – UEM - Departamento de Psicologia
Fundação Criança de São Bernardo do Campo
Universidade Comunitária do Oeste Catarinense – UNOCHAPECÓ – Curso de Psicologia
Universidade Federal da Bahia – UFBA - Departamento de Educação 4
Associação de Docentes da Universidade de São Paulo - ADUSP
Associação Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação – ANPED – GT Psicologia da Educação
Instituto Sedes Sapientiae 
Associação Palavra Criativa
Universidade de São Paulo - Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em
Psicologia Escolar e Educacional - LIEPPE
Centro de Saúde Escola “Samuel Barnsley Pessoa” (Butantã) Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo - FMUSP
Grupo de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – DEDICA – Curitiba, PR
União de Mulheres do Município de São Paulo
Sociedade de Pediatria de São Paulo – SPSP
Fórum Paulista de Educação Infantil 

domingo, 30 de outubro de 2011

Brincando nos Campos do Senhor

O filme, dirigido pelo Babenco, eu havia assistido no cinema em 1991. Durante a semana, ao comprar alguns itens de sobrevivência em uma livraria - dentre eles o último álbum do bluesman Ryan Adams e a sétima temporada do House -, notei o relançamento em DVD.
A lembrança que eu tinha era de um filme belíssimo, com uma fotografia espetacular.
Ontem eu e a Mari assistimos novamente aos 186 minutos de "At Play in the Fields of the Lord".
Rodado inteiramente na Amanônia, o roteiro narra a experiência de dois casais de evangélicos norte-americanos que ingressam na selva para converter índios arredios à ideia de Deus. Apesar de o motivo primeiro do argumento ser razoavelmente usual no cinema - lembro, por todos, de "A Missão" -, o bondoso desejo de cataqueizar as almas pagãs ganha contornos interessantes nos procedimentos eleitos pelos missionários. Além das interpretações dos estrangeiros Tom Berenger, John Lithgow, Daryl Hanna, Adain Quinn e Kathy Bates e dos brasileiros Nelson Xavier, Stênio Garcia e José Dumont, a participação de Tom Waits é supreendente.
Lógico que o espectador deve baixar o ritmo para apreciar o desenvolvimento da narrativa, que transcorre lentamente ao longo das 03 horas. Mas a experiência é significativa.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sobre Faltas e Manifestações Democráticas

Na 15a Parada Livre, realizada ontem em Porto Alegre, senti falta de algumas instituições da sociedade civil que afirmam lutar por Democracia real na rua, ao lado do povo.


domingo, 23 de outubro de 2011

Congresso de Estudos Criminais [PUCRS]


XI Congresso de Estudos Criminais (Em homenagem ao Professor Vilmar Fontes)
Data: 10 e 11 de novembro de 2011
Local: Teatro do Prédio 40 da PUCRS 
Organização: PUCRSFaculdade de Direito e Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais
Coordenação: Prof. Ms. Alexandre Wunderlich, Prof. Dr. Flávio Cruz Prates e Prof. Dr. Fabrício Dreyer de Ávila Pozzebon

PROGRAMAÇÃO

Quinta-feira - noite (10/11)
18h – Credenciamento
19h – Abertura - Solenidade Oficial – Homenagem ao Professor Dr. Vilmar Fontes
19h30m – O Tribunal do JúriFernando Tourinho Filho
20h15 – A Prisão provisóriaGeraldo Prado (UFRJ e TJRJ)
21h – Meios de Prova e Garantias Constitucionais: delação premiada, interceptações e outras medidas cautelaresVitor Guazzelli Peruchin (PUCRS)  e Marcelo Guazzelli Peruchin (PUCRS). 

Sexta-feira - manhã (11/11)
8:30h – Sistemas Processuais Penais: o papel do Juiz no Processo PenalFabiano Kingeski Clementel (IBRAPP). 
9:00 - Questões atuais acerca da Tipicidade PenalFabio Roberto D’Avila (PUCRS e ITEC/RS). 
10h – Evasão de divisas: questões polêmicasJader Marques (ITEC/RS e ILP)
10:30 - Lavagem de dinheiro: questões polêmicasAndrei Zenkner Schmidt (PUCRS e ITEC/RS). 
Encerramento

Inscrições: www.pucrs.br/proex

Criminologia Crítica e Criminologia Feminista: Tensões

Campos & Carvalho - Tensões entre Criminologia Feminista e Criminologia Crítica

Jovens Indignados em Marcha


Na palestra de sexta-feira passada, na FURG, no lançamento do Criminologia Cultural e Rock - dentre as atividades da Criminological Tour on the Road - trabalhei as marchas contemporâneas. A linha da palestra seguiu aquela apresentada mês passado na UFRGS.
Sábado, ao acordar, desci para tomar café e ler o jornal. Juremir Machado da Silva, um dos mais instigantes intelectuais que temos na Província, um autêntico polemista, havia traduzido minha fala.

"Jovens Indignados
Juremir Machado da Silva
[Correio do Povo, Ano 117, nº 22 - Porto Alegre, 22 de Outubro de 2011]
Jovens são seres esquisitos. Contestam o que os mais velhos consideram sagrado. Usam tatuagens e roupas absurdas. Ouvem músicas barulhentas. Dormem de manhã. Fazem fila de madrugada para entrar em boates. Jovens são bizarros: acham anormal que a miséria se espalhe pelo mundo apesar da concentração da riqueza. Quando caiu o Muro de Berlim, os mais velhos, feito jovens apressados e inconsequentes, trataram de confirmar o "fim da história". Nunca mais se contestaria o bem-estar social do neoliberalismo triunfante. Passados 21 anos, quase tudo mudou, salvo o discurso dos conservadores. Jovens, como em maio de 1968, estão nas ruas dos Estados Unidos indignados com o estado das coisas e com certas coisas do Estado. Jovens são estranhos: não entendem que seja normal deixar milhões de pessoas apodrecendo na miséria sob a justificativa de que não estudaram, não se qualificaram ou que o tempo e a retomada do crescimento econômico os levarão, enfim, a uma situação melhor.
É, jovens podem ser esdrúxulos. Os indignados não querem nem o comunismo nem o neoliberalismo. Negam tudo. Passam por cima de certezas. Pisoteiam ideologias. Tiram a roupa sem mais nem menos. No Chile, observe-se a loucura, jovens querem que o Estado se encarregue da educação de todos. Afirmam que a educação não pode ser um negócio como qualquer outro. Atrevem-se a sustentar que o lucro não pode ser o motor do sistema educacional. Como são ingênuos e alienados esses jovens de hoje. Apostam que podem mudar o mundo, contrariando as evidências e as previsões, e acabam conseguindo o que querem. Jovens não sabem o que fazem. Ignoram que quando forem mais velhos mudarão de opinião. Os jovens indignados americanos são muito perigosos. Defendem a humanização do capitalismo. Outros, em vez de usar as redes sociais para namorar ou "ficar", organizam manifestações, derrubam ditadores no mundo árabe ou sacodem dogmas ocidentais escorados no cinismo transformado em filosofia política e econômica.
Definitivamente não dá para confiar nos jovens. Por falta de experiência e de conhecimento, negam os valores mais sadios dos seus pais e avós, entre os quais privilegiar a especulação financeira e diminuir gastos públicos com a saúde. Jovens americanos são bobos. Desejam que o orçamento destinado à saúde pública seja maior que o da guerra. Vê-se que os pais perderam o controle sobre os filhos e já não conseguem transmitir-lhes o que pensam de pior. Em vez de adorar Wall Street, os jovens cospem ou fazem xixi em cima daquilo que representa a visão de mundo por excelência dos seus antepassados. Sem dúvida, será preciso tomar medidas rigorosas em relação aos jovens. Se eles continuarem agindo livremente, sem o menor senso de realidade, acabarão por construir um mundo lamentavelmente melhor.
Nos lares republicanos dos Estados Unidos só se ouve uma exclamação: "A juventude está perdida". Não dá para se confiar em ninguém com menos de 20 anos. É um pessoal com ideias próprias antes do tempo. Sonha-se com um mundo em que a cooperação seja tão importante quanto a competição. Que horror! Que falta de educação! É o fim."

Esporros e Porradas

Saudade da época do Movimento Estudantil. Semana passada ganhei este presente: memória acadêmica de 1992.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Criminologia de Garagem # 4


No Programa # 4 o tema de debate é o Neo-Inquisitorialismo. Para além das questões processuais, a discussão envolve a mentalidade e cultura inquisitória contemporânea.
Na trilha sonora Black Sabbath e Rainbow.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Introdução Crítica à Criminologia Brasileira



"Este livro pretende ser um guia para uma aproximação transdisciplinar à questão criminal e para os alunos de criminologia. Dentro da perspectiva denominada por Zaffaroni de “curso dos discursos sobre a questão criminal”, esta obra trabalha os conteúdos teóricos da criminologia numa perspectiva da história social das ideias. Partindo do século XIII, no sentido da longa duração, o poder punitivo vai tomando um lugar central na administração da vida humana no Ocidente, em relação direta com os movimentos de acumulação do capital, do surgimento e da consolidação do Estado e também com as pugnas referidas à centralização da Igreja. A questão criminal aparece então não como algo ontológico ou “da natureza”, mas como uma construção histórico-social. A partir do século XVIII, com o surgimento do Direito Penal moderno, a questão criminal vai adquirindo uma centralidade política que se desenvolve nas marchas e contramarchas das relações entre o capital, a mão de obra  e os sistemas penais. Nessa perspectiva histórica de rupturas e permanências, as escolas criminológicas se apresentam, sempre, referidas às demandas por ordem de cada conjuntura econômica, política, social e cultural. Abrasileirar essa história é um dos objetivos do estudo, tratando de entender as recepções das teorias dos centros hegemônicos para a nossa realidade viva. Instigar a produção de uma criminologia que sirva ao povo brasileiro é o fio condutor e crítico dessa peça acadêmica."

Ainda sobre as Campanhas contra a Corrupção

O Ministério Público do Rio Grande do Sul está organizando o I Congresso Nacional de sua campanha Contra a Corrupção. O evento é intitulado: “O que você tem a ver com a corrupção?” (informações aqui)
Achei bastante interessante a nominata dos palestrantes.
Segundo os promotores, o evento tem como objetivo propor um debate a partir de diferentes olhares. 

Os convidados: o governador Tarso Genro (palestra de abertura), os senadores Pedro Simon e Ana Amélia Lemos, o  repórter da Rede Globo, José Roberto Burnier, o diretor de Produto do Grupo RBS e ex-chefe de Redação de Zero Hora, Marcelo Rech, o presidente do Sport Clube Internacional, Giovanni Luigi,  o comentarista esportivo da Rádio Gaúcha, Nando Gross e o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff.
Penso que a nominata de especialistas fala por si mesma. 
Desta vez, vou me abster.



Criminologia Cultural e Rock - Publicidade

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Conselheiro da OAB/RS Responde ao Antiblog


Em razão do "desconforto institucional" que o post intitulado "Sobre a Patética Participação da OAB/RS no 15 de Outubro" causou, publico na íntegra a resposta encaminhada pelo Conselheiro Alexandre Wunderlich. 
O "direito de resposta" será divulgado nos mesmos canais que o post anterior.


"Na condição de leitor do AntiBlog e de Conselheiro da OAB/RS tomo a liberdade – que é direito – de responder o post “Sobre a patética participação da OAB/RS no 15 de Outubro.”
Pela agressividade da nota é visível o desencanto do titular do blog. Diria, o teor é ofensivo e despropositado. Estranho, inclusive, pois sei que o titular do blog é avesso aos adjetivos, buscando sempre a pureza do texto.
Penso, sinceramente, que faltou conhecimento e prudência no trato do tema participação da OAB/RS nas movimentações populares, que acabou por atingir (inominadamente) uma série de pessoas que estão engajadas no processo de democratização do país e que atuam todos os dias, de forma voluntária, em benefício da classe dos Advogados e da Sociedade Civil.
Primeiro, porque de “oportunista” não se pode acusar a OAB/RS, jamais, pois é de conhecimento – dos advogados que realmente militam na Ordem e pela Ordem - que a entidade foi a primeira instituição, ainda em 2007, a criar e depois alavancar no cenário nacional o movimento Agora Chega!
Trazendo a informação correta ao leitor, as “faixas” que tanto importunaram o titular do blog, bem como alguns de seus leitores-seguidores, foram produzidas ainda no ano de 2007, muito antes do 15 de Outubro, pois a luta é antiga na OAB/RS. 
Aliás, a atual direção da OAB/RS, ao contrário de outras gestões e de outras instituições, tem saído à rua com freqüência, não sendo omissa ou indiferente com as movimentações e as angústias populares.
Segundo, porque para se saber se a “manifestação é autêntica ou espontânea” deve-se conhecer minimamente a história da Ordem dos Advogados. Só quem não lembra o papel da OAB/RS nos Anos de Chumbo é que pode estranhar a presença do Advogado na rua, entender isso “fora de contexto” e, assim, censurar o colega. 
A OAB/RS fez um grande chamamento para que toda a sociedade saísse à rua, divulgou a movimentação, deu publicidade, contribuiu para a organização das manifestações e fez coro aos jovens e às demais instituições, zelando por manifestações suprapartidárias.
Portanto, não tenho nenhuma vergonha da minha classe, não tenho “vergonha alheia” dos meus colegas Advogados levantando bandeiras e gritando palavras de Ordem. Orgulho-me! Viver em democracia é isso, saber ser tolerante e reconhecer a diferença, a praça é lugar de todos e não de uma minoria.  Se a OAB/RS não vai à rua... é acusada de omissa. Se vai... alguns ficam “envergonhados”.
Como conheço a realidade dos advogados – daqueles que estão no Foro e se reconhecem como tal – me senti bem representado. E como todos sabem, tenho sociedade com Salo de Carvalho e escrevi vários livros com ele e, democraticamente, estou divergindo veementemente do meu amigo e colega: o lugar da OAB/RS é na rua e ao lado do povo!
Alexandre Wunderlich – Advogado e Conselheiro da OAB/RS"

domingo, 16 de outubro de 2011

Sobre a patética participação da OAB/RS no 15 de Outubro


Durante a semana havia conversado com alguns amigos que estudam e participam dos movimentos jovens contemporâneos sobre a tentativa de algumas instituições incorporar o projeto do 15 de Outubro nas suas pautas políticas. Inegavelmente vimos tentativas oportunistas de institucionalizar, na agenda da "velha política", um fenômeno novo marcado por manifestações autênticas e espontâneas. Como todo pensamento ortodoxo que não consegue entender o que está ocorrendo no mundo atual e, em razão desta insuficiência cognitiva, interpreta o novo com os olhos do velho, estas instituições projetaram nas manifestações por democracia real as suas velhas expectativas e as suas mofadas representações.
Dentre os inúmeros equívocos legados do obtuso pensamento autoritário - que permanece como o norte de atuação das instituições contemporâneas - está a concepção de que a sociedade civil, os movimentos sociais e, sobretudo, a expressão individual devem ser tutelados, pois fracos em termos de organização e carentes de projetos "viáveis".
Ocorre que esta ilusão paternalista de ver a sociedade civil e os movimentos sociais acaba inexoravelmente se chocando com o real, como aconteceu ontem na patética participação da OAB/RS na ocupação da Praça da Matriz. Neste aspecto a participação não menos paternalista de alguns partidos políticos e sindicatos foi menos caricata.
A forma de inserção do órgão de representação dos advogados gaúchos na ocupação do centro da cidade foi de um equívoco superlativo. Em inúmeros momentos senti aquilo que pode ser denominado como "profunda vergonha alheia" - e o problema é que não era tão alheia assim, pois sou advogado e conheço grande parte daqueles personagens cômicos que estavam presentes na manifestação.
A caricatura se destaca não apenas pela tentativa de "guiar" as manifestações de um coletivo absolutamente plural, anárquico e alheio às formas tradicionais de representação política - destaco um dos cartazes com os dizeres: "ninguém me representa" -, mas pela postura absolutamente "fora de lugar" dos representantes da OAB/RS ao inserir na agenda do movimento temas vazios e perspectivas moralizadoras como a impunidade e a corrupção - vazios porque não rompem com a mediocridade do senso comum; moralizadores porque sustentam um ideal punitivista absolutamente alheio ao sentido libertário do movimento. Confiram no site da "Ordem" a leitura institucional do movimento, com destaque para os cartazes contra o auxílio reclusão e pela inserção da corrupção no rol de crimes hediondos.
Em uma manifestação autêntica e espontânea, chamou atenção a participação plastificada da OAB/RS -  literalmente plastificada, pois as faixas de material sintético encomendadas em gráficas destoavam dos cartazes pintados e dos panos grafitados artesanalmente, e afirmavam, ética e esteticamente, a insustentabilidade ambiental. Seria mais honesto se os representantes da instituição estivessem engravatados, reivindicando a inclusão da assinatura de TV a cabo nos benefícios da Caixa de Assistência.


Sobre Occupy Porto Alegre


É inquestionável a relevância do movimento que tomou a Praça da Matriz, ontem, em Porto Alegre.
A principal questão que vejo é que não se trata de um movimento isolado ou de uma simples "cópia" das reivindicações que vimos na Europa e na América do Norte.
Lógico que a chamada para a tomada das ruas no 15 de outubro acompanha um movimento global de crítica e denúncia das crises do capitalismo financeiro. Mas em 2011, assistimos, aqui na Província, a Marcha da Liberdade, a Marcha da Maconha, a Marcha das Putas e no final do mês teremos a Parada Livre. Todos movimentos políticos espontâneos, supra-partidários e supra-institucionais, organizados e geridos livre e horizontalmente. Movimentos políticos com pautas distintas daquelas da "grande política". Pautas que primam pela liberdade individual e pelo direito de ser e de pensar fora dos padrões (e das prisões) do senso comum. A grande reivindicação foi, e continua sendo, o direito à diferença e à soberania individual.
Na ocupação da Praça da Matriz esta característica ficou bastante nítida e o movimento conseguiu se distanciar do oportunismo das instituições que quiseram colar a ocupação com a pauta moralista e vazia do "combate à corrupção" - quero escrever especificamente sobre esta questão em outro post, sobretudo a atuação patética da OAB/RS.
Creio, inclusive, que muitas pessoas que participaram das outras manifestações referidas deixaram de comparecer em razão da tentativa pífia de algumas instituições de tomarem a condução da marcha, transformando em um ato político da "velha política". Mas depois de os empreendedores morais discursarem mui empolgadamente sobre os "valores da sociedade dos homens de bem" e irem embora - pois provavelmente tinham que participar de algum evento da alta sociedade política ou econômica da Província - os verdadeiros protagonistas, de forma muito natural, tomaram a praça e a ocupação aconteceu, livre e pacificamente.

Criminologia Cultural e Rock na UFRGS

Cobertura da 3a edição do evento "Criminologia Cultural e Rock", Faculdade de Direito da UFRGS, pelo João Henrique Muniz Conte, para o Jornal A Toga, do CAAR.

sábado, 15 de outubro de 2011

Sobre Professores, Ensino e Aprendizado

(Warat)
Tenhamos consciência do nosso papel de instigadores, não somos formatadores - Try to form competent rebels", nos dizeres de Boaventura de Souza Santos).
Saibamos que nossa responsabilidade é exclusivamente com os nossos alunos, nunca com as "instituições de ensino", quaisquer que sejam.
Tenhamos claro que somos educadores, não tecnocratas.
Saibamos que nossa grandeza consiste em ser ponte e não fim, transição e queda (Fred Nietzsche).

Zaratustra ao contemplar admirado a multidão, falou:
O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sobre o abismo. Perigosa a travessia, perigoso o percurso, perigoso olhar para trás, perigoso o tremor e a paralisação.
A grandeza do homem está em ser ponte e não meta: o que nele se pode amar é o fato de ser ao mesmo tempo transição e declínio.
Amo os que só sabem viver em declínio, pois são os que transpõem.
Amo os que desprezam com intensidade, pois sabem venerar intensamente, e são flechas lançadas pelo anseio-da-outra-margem. (...)
Amo o que ama a sua própria virtude, pois que a virtude é vontade de declínio e flecha do desejo. Amo o que não guarda para si nem uma só gota de seu espírito mas quer ser inteiramente o espírito de sua própria virtude. É dessa forma que ele, como espírito, atravessa a ponte.
Amo o que faz da virtude inclinação e destino, pois ele, por amor à sua virtude, quer viver ainda e não mais viver.
Amo o que não quer virtudes em demasia. Uma única virtude é mais virtude do que duas, pois ela é o nó mais forte onde se ata o destino.
Amo o que prodigaliza sua alma, e que, ao fazer isto, não visa á gratidão nem ao pagamento; pois sempre dá e nada quer em troca.
Amo o que se envergonha quando o dado cai a seu favor, e então pergunta: serei um trapaceiro? – pois é para sua ruína que ele quer se encaminhar.
Amo o que antecede com palavras de ouro os seus atos e sempre cumpre mais do que promete; pois ele quer o seu declínio.
Amo o que justifica os que serão e resgata os que foram; pois quer perecer por aqueles que são.
Amo aquele que pune seu Deus porque o ama; porquanto só poderá perecer pela cólera de seu Deus.
Amo o que, mesmo ferido, tem a alma profunda, e que um simples acaso pode fazer perecer. Assim, ele atravessa de bom grado a ponte.
Amo aquele cuja alma transborda e a tal ponto se esquece de si que todas as coisas nele encontram lugar. Assim, todas as coisas se tornam seu declínio.
Amo todos aqueles que são como pesadas gotas caindo uma a uma da negra nuvem que paira sobre os homens; anunciam a chegada do raio e perecem como anunciadores (...).”

(Lyra Filho)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sobre as Revoluções do Cotidiano e o Sono Imobilizador


Hei, alienadão, dá uma olhada no que está acontecendo no mundo.
Teus filhos irão perguntar onde você estava quando aconteceram as grandes marchas pela liberdade e pela sustentabilidade ambiental.
Você terá coragem de dizer que "estava na academia, malhando" ou que "estava estudando para um concurso qualquer que desse o privilégio de ocupar um escaninho obscuro na obscura burocracia estatal"?
Te liga! Acorda! Vai pra rua!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre o Proibicionismo

Ontem participei de uma mesa sobre pesquisas éticas e jurídicas sobre drogas no evento ToxSul 2011 - II Congresso Sul de Toxicologia Clínico-Laboratorial, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, evento organizado pelos departamentos de Medicina e Farmácia da UFRGS.
Confesso que estava bastante desconfortável e com receio da resposta do público, sobretudo porque dividiria mesa com o Prof. Goldim, que desenvolve importantes estudos sobre ética na pesquisa. Pensei que minha fala seria desconectada e não interessaria ao público.
Surpreendente a receptividade da "comunidade científica" da área da saúde, inclusive (e sobretudo) as inúmeras manifestações contra o proibicionismo. Os danos do proibicionismo são maiores do que aqueles que derivam punição e são compartilhados em inúmeras áreas acadêmicas e profissionais.
Posso estar entusiasmado com o resultado positivo, mas acho que o discurso ganha cada vez mais consistência e adesão.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Laudos Criminológicos

Na última edição da Revista Mnemosine (volume 07, número 01, 2001) foram publicados interessantes artigos sobre Laudos Criminológicos e atuação do psicólogo na execução penal (acesso aqui).

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Seleção Advogados SAJU - UFRGS


O SAJU da UFRGS está com seleção aberta para advogados em diversas áreas. Conferir em http://www.ufrgs.br/saju/. 
As temáticas, áreas de atuação, horários de funcionamento e número de vagas disponíveis dos grupos estão dispostos a seguir:
I – G1 atua todas as quintas-feiras das 19h às 21:30h, atendendo demandas de Direito civil, trabalhista e previdenciário. Oferece 1 (uma) vaga para advogado(a) em demandas de Direito civil e 1 (uma) vaga para advogado(a) em demandas de Direito previdenciário.
II – G4 atua todas as segundas-feiras das 14h às 18h, atendendo demandas cíveis em geral e de família. Oferece 2 (duas) vagas para advogados(as).
III – G8-Generalizando atua todas as sextas-feiras, das 14h às 18h, atendendo demandas de direitos sexuais e de gênero. Oferece 2 (duas) vagas para advogados(as).
IV - G9 atua todas as terças-feiras das 14h às 18h, atendendo demandas relacionadas a crianças e adolescentes. Oferece 1 (uma) vaga para advogado(a).
V - G5 atua todas as quintas-feiras das 14h às 18h, atendendo demandas relacionadas a crianças e adolescentes. Oferece 1 (uma) vaga para psicólogo(a).