domingo, 27 de setembro de 2009
Da Série "Diálogos em um Planeta sem Vida"
O Juiz, o Auxiliar e o Lindo Dia (fora da sala de audiência)
Cenário
Audiência de instrução. Imputação de tráfico de drogas. Prova da associação para o tráfico: escuta telefônica. Diálogo entre os sujeitos que levariam a cocaína de Mato Grosso para Santa Catarina. Na entrega o flagrante. Defesa pessoal de um dos réus: estava no local para comprar para consumo e que a voz ao telefone não era a dele. As vozes não haviam sido periciadas.
1º Ato
Depoimento do Policial que havia realizado a escuta.
Excelência [impaciente por não ter sido realizada a perícia e, portanto, não conseguir definir exatamente os réus como responsáveis]: "Se o senhor ouvir a voz de cada um dos réus pode identificá-los?"
Policial: "Creio que não excelência."
Defesa [pensando]: "O que este Juiz está fazendo?"
Excelência: "Vamos fazer o seguinte: o Senhor saia da sala e aguarde. Vou trocar os réus de lugar. Chamarei o Senhor novamente. O Senhor deverá entrar de costas, sem olhar para os réus. Após, cada um deles pronunciará uma frase. Se reconhecer a voz de algum deles, o Senhor me avise.”
Policial: "Sim, Excelência."
Defesa [pensando]: "O que este Juiz está fazendo?"
2º Ato
O Policial entra de costas na sala. Os três réus, vestindo macacão laranja da penitenciária, algemados e voltados para parede.
Excelência: "Agora, preciso de uma frase"
Silêncio na Corte. Juiz olha para Secretário. Os trejeitos afeminados do Auxiliar Judiciário chamam a atenção.
Excelência: "Auxiliar Judiciário, me dá uma frase."
O Auxiliar Judiciário mira o horizonte. Dia de sol na Ilha, mar claro.
Auxiliar Judiciário: “Hoje está um lindo dia!"
Excelência: "Um de cada vez, repitam esta frase do Auxiliar."
Réu: “Hoje está um lindo dia!"
Réu: “Hoje está um lindo dia!"
Réu: “Hoje está um lindo dia!"
Réu: “Hoje está um lindo dia!"
Excelência: "O Senhor reconhece voz de algum dos réus. Sabe dizer de quem era nas interceptações?”
Policial: "Não excelência".
Defesa [pensando]: "O que este Juiz está fazendo?"
3º Ato
Após o não-reconhecimento, a Excelência nota a situação ridícula criada pela ‘perícia’ proposta. Alguns presentes na sala de audiência – exceto os réus – riem constrangidos, sem emitir som.
Excelência: "Pô Auxiliar, tu é f*¨&%¨. Olha a frase que tu me dá!"
O Auxiliar nada fala, segue mirando o dia lindo pela janela.
Defesa [pensando, interrogativo]: “O Auxiliar é f*&¨*&%.”
Coda
Todos os réus condenados por tráfico e associação ao tráfico. Pena: 06 anos em regime fechado.
Post Scriptum
A história deste post foi relatada pelo Beto Rodrigues, sugerindo que fosse incorporada na série "Diálogos em um Planeta sem Vida". Com autorização, alterei e inclui algumas coisinhas no post.
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4 comentários:
hahaha... a única coisa sensata foi a frase do auxiliar...
Credo.
o auxiliar era o único resquício de vida nessa cerimônia fúnebre.
MEDO
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