Trata-se literalmente de um espaço de fronteira, de um vácuo entre bairros com identidades culturais bem definidas. Do centro da cidade pela Kearny St. em direção à City Lights, se caminha entre Chinatown, à esquerda na área montanhosa de Nob Hill, e o Financial District, à direita na parte plana da cidade. A Broadway marca exatamente o final de Chinatown. Na pequena travessa Jack Kerouac com a Broadway estão localizadas de um lado a City Lights e do outro o Vesuvio. Acima a Columbus indica o ingresso em Little Italy - se a característica do Bairro Chinês será a presença do vermelho escuro e dos letreiros em mandarin em praticamente todos os estabelecimentos, no Bairro Italiano será muito comun encontrar restaurantes típicos e bandeiras do país nas esquinas.
Do outro lado da Broadway, de forma muito visível, disputando espaço com o The Beat Museum, estão instaladas inúmeras casas comerciais de exploração pornográfica: casas de shows, lojas de artefatos e, especialmente, o Larry Flynt's Hustler Club.
Neste intervalo da cidade, no meio desta fauna, está o espaço de evocação da cultura beatnik.
Numa das noites desta semana saímos de casa cedo para jantar em Little Italy, perto da City Lights - que fica aberta todos os dias até meia-noite -, e depois tomar um vinho no Vesuvio.Quando se altera radicalmente os hábitos alimentares, a cozinha italiana acaba sendo uma espécie de tábua de salvação, pois não há muita margem de erro. Peixe para mim, que tento manter uma espécie de dieta; pasta para Mari, que não tem problemas com a balança; Chianti para o casal.
Na travessa Kerouac alguns jovens tocam blues em troca de algum dinheiro. City Lights com inúmeras pessoas circulando - parece ter acontecido algum sarau literário.
Na entrada do Vesuvio o porteiro lê um livro que não consigo identificar.
Pede a identidade da Mari - brinco com a situação; ela não gosta. Sentamos na ponta de uma grande mesa, ao lado do bar. No lado oposto da mesa um grupo de jovens que cantam e declamam - se divertem muito (é muito divertida sua euforia).
Pedimos nosso Cabernet e apreciamos o lugar.
O público é distinto daquele que comumente encontramos nos bares da cidade. Em realidade os frequentadores do bar, exceto alguns grupos de jovens como os nossos amigos ao lado, são pessoas mais velhas. Acima dos quarenta anos, imagino.
Ficamos sentados, apreciando o ambiente, tomando vinho e conversando nostalgicamente sobre tudo - sobretudo sobre a energia do lugar. A vontade é congelar a cena e permanecer indefinidamente.
Na foto abaixo: ao fundo a parede lateral da City Lights; no plano intermediário a imagem pouco nítida de um dos músicos de blues fumando; e em primeiro plano frequentadores no interior do Vesuvio, em frente da nossa mesa.
[Foto de Mari Weigert, no interior do Vesuvio]
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