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[disponibilizo livros e artigos para download em Academia.edu e Scribd]

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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ciências Criminais em Foco

Nos dias 05 e 06 de maio acontecerá o seminário regional do IBCCrim em Sergipe, coordenado pela Profa. Daniela Carvalho Almeida da Costa.
Confira programação: http://www.seminarioibccrimsergipe.com.br/

sábado, 29 de janeiro de 2011

Cabernet no Vesuvio

O 'espaço beat' em San Francisco - se é que é possível falar em 'espaço beat', pois se trata não mais do que um quarteirão onde se encontram a livraria e dois ou três bares que cultivam a memória beatnik - fica localizado nos arredores do cruzamento das Avenidas Columbus e Broadway.
Trata-se literalmente de um espaço de fronteira, de um vácuo entre bairros com identidades culturais bem definidas. Do centro da cidade pela Kearny St. em direção à City Lights, se caminha entre Chinatown, à esquerda na área montanhosa de Nob Hill, e o Financial District, à direita na parte plana da cidade. A Broadway marca exatamente o final de Chinatown. Na pequena travessa Jack Kerouac com a Broadway estão localizadas de um lado a City Lights e do outro o Vesuvio. Acima a Columbus indica o ingresso em Little Italy - se a característica do Bairro Chinês será a presença do vermelho escuro e dos letreiros em mandarin em praticamente todos os estabelecimentos, no Bairro Italiano será muito comun encontrar restaurantes típicos e bandeiras do país nas esquinas.
Do outro lado da Broadway, de forma muito visível, disputando espaço com o The Beat Museum, estão instaladas inúmeras casas comerciais de exploração pornográfica: casas de shows, lojas de artefatos e, especialmente, o Larry Flynt's Hustler Club.
Neste intervalo da cidade, no meio desta fauna, está o espaço de evocação da cultura beatnik.

Numa das noites desta semana saímos de casa cedo para jantar em Little Italy, perto da City Lights - que fica aberta todos os dias até meia-noite -, e depois tomar um vinho no Vesuvio.
Quando se altera radicalmente os hábitos alimentares, a cozinha italiana acaba sendo uma espécie de tábua de salvação, pois não há muita margem de erro. Peixe para mim, que tento manter uma espécie de dieta; pasta para Mari, que não tem problemas com a balança; Chianti para o casal.
Na travessa Kerouac alguns jovens tocam blues em troca de algum dinheiro. City Lights com inúmeras pessoas circulando - parece ter acontecido algum sarau literário.
Na entrada do Vesuvio o porteiro lê um livro que não consigo identificar.
Pede a identidade da Mari - brinco com a situação; ela não gosta. Sentamos na ponta de uma grande mesa, ao lado do bar. No lado oposto da mesa um grupo de jovens que cantam e declamam - se divertem muito (é muito divertida sua euforia).
Pedimos nosso Cabernet e apreciamos o lugar.
O público é distinto daquele que comumente encontramos nos bares da cidade. Em realidade os frequentadores do bar, exceto alguns grupos de jovens como os nossos amigos ao lado, são pessoas mais velhas. Acima dos quarenta anos, imagino.
Ficamos sentados, apreciando o ambiente, tomando vinho e conversando nostalgicamente sobre tudo - sobretudo sobre a energia do lugar. A vontade é congelar a cena e permanecer indefinidamente.

Na foto abaixo: ao fundo a parede lateral da City Lights; no plano intermediário a imagem pouco nítida de um dos músicos de blues fumando; e em primeiro plano frequentadores no interior do Vesuvio, em frente da nossa mesa.

[Foto de Mari Weigert, no interior do Vesuvio]

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sobre Drogas, Ensino e Desresponsabilidades

O Dudu Jobim enviou o link de um fantástico episódio dos Simpsons que disponibilizo abaixo.
As questões que são colocadas há muito me incomodam e alguns autores têm tratado muito bem do tema que é o alto nível de medicalização das crianças e dos adolescentes nas instituições brasileiras, sobretudo escolas privadas e instituições para jovens em conflito com a Lei. Thomas Szasz - para mim um dos maiores críticos do saber psiquiatriátrico e em alguns momento superando, inclusive, Foucault - possui inúmeros livros sobre o tema, como "The Medicalization of Every Day Life" e "Coercion as Cure: A Critical History of Psychiatry".
No Brasil autores como Birman desenvolveram muito bem esta crítica - desde sua tese de Doutorado "A Psiquiatria como Discurso da Moralidade" aos textos que compõem os livros "Mal-Estar na Contemporaneidade" e "Arquivos do Mal-Estar".
A pergunta ingênua que pode ser feita é: qual o motivo do alto número de diagnósticos de déficit de atenção ou de hiperatividade em nossa juventude nos últimos anos?
Algumas questões anteriores parecem ser importantes pontuar antes de tentar explicar (não respoder) esta questão. 
A primeira, e mais evidente, é em relação à estrutura de ensino e de aprendizado. Nossas salas de aula são oitocentistas. O modelo de ensino que estrutura todas as instituições está completamente superado. O padrão de aula expositiva e monologada, na qual cabe ao aluno simplesmente esperar que o professor lhe transmita o conhecimento, é altamente questionável. Parte do pressuposto de que o aluno é um recipiente vazio que deve ser preenchido com conteúdo pelo professor .
A segunda questão é a da própria condição destas crianças que ao longo do tempo que estão na escola e na universidade vão se tornando adultos. O desenvolvimento intelectual e a descoberta da sexualidade (dentre outras formas de prazer) criam naturalmente nestes jovens um número infinito de questões - esta situação "faz questão",  no sentido psicanalítico do termo. Angústia, ansiedade, depressão, agitação, rebeldia são respostas mais do que esperadas, tornam-se necessárias para expor o desconforto com a nova condição e as novas expectativas que movem este pré-adulto.
A terceira questão é relativa ao avanço cientítico e tecnológico que vivemos e que a juventude atual incorporou desde o berço. Se as gírias eram importantes marcadores identitários da juventude, hoje esta linguagem tornou-se virtualizada, sem barreiras e atualizada instantaneamente.
Agora refaço a pergunta em outros termos: qual a possibilidade deste cyberjovem inquieto estar concentrado neste ambiente analógico que é a sala de aula?
Indago que se para mim, que cursei o segundo grau entre 1986 e 1988, o ambiente de sala de aula era pouco interessante, como pode ser para esta juventude que nasceu inserida na web?
Uma coisa não explica a outra, não se trata de uma relação causal-deterministas (todos sabem), mas é neste contexto que surgem os novos diagnósticos: déficit de atenção e hiperatividade.
Independente da existência ou não de um surto epidêmico de déficit de atenção ou de hiperatividade em nossas crianças e jovens, o diagnóstico gera efeitos muito reconfortantes na nossa ordem moral: a isenção das culpas, a transferência das responsabilidades.
É incrível como vejo como certas pessoas afirmam e valorizam este diagnóstico psiquiátrico (seu ou dos seus familiares). Alguns, inclusive, lutam para que o diagnóstico seja positivo.
Remeter o "problema" para o campo das doenças da alma fornece aos diretamente implicados uma "boa consciência". Isto porque tratar determinadas situações comportamentais problemáticas (sejam pequenos desvios ou rebeldias até graves crimes) como patologias permite que todos sejam desresponsabilizados. O problema é de outra ordem, advém de instâncias não governáveis, emerge de mecanismos incontroláveis.
Assim, o sujeito diagnosticado, seus amigos, seus familiares, seus professores, ou seja, toda a sociedade, torna-se vítima de algo que está para além do seu controle.
Mas se há um processo de desresponsabilização dos diretamente afetados pelo comportamento incômodo, por outro lado há o empoderamento daqueles que realizam o diagnóstico, prescrevem o medicamento e criam as condições para a "cura".
Claro que o problema não é simples e há muitas outras (infinitas) questões envolvidas, mas o objetivo do post é apenas fomentar a reflexão.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sobre Prazeres, Proibições e Hipocrisias


"When I was in England, I experimented with marijuana a time or two, and I didn't like it.
I didn't inhale and never tried it again."
(Bill Clinton)



Os comentários do Dudu Jobim e do Marco Preis sobre os "refrigerantes de cannabis" anteciparam a discussão que eu iria propor no Antiblog.
Em vários Estados norte-americanos, como no Colorado e na Califórnia, foram aprovadas leis que permitem o "uso medicinal" da maconha. Em tese os refrigerantes seriam direcionados para este público.
Aqui em San Francisco os usuários autorizados recebem uma "carteirinha" que permite que portem maconha para consumo pessoal.
A questão toda é: "para obter a autorização a finalidade do consumo deve ser medicinal."
Assim, mesmo que o consumo cause algum dano ou induza a dependência ou seja uma "ponte" para outras drogas mais pesadas - argumentos utilizados frequentemente pelos proibicionistas -, o fim sanitarista-medicinal imuniza a substância.
O problema, portanto, não seria o consumo da cannabis em si, mas qual o objetivo do consumo.
Se o objetivo for diversão, prazer ou entretenimento o consumo é vedado e o usuário é criminalizado.
A política criminal de drogas inegavelmente é uma grande hipocrisia, fundamentada em um moralismo inconsequente que produz milhares de vítimas do controle punitivo-carcerário.
Mas o "problema" começa a ser relativizado quando são percebidas que as oportunidades de lucro, públicos (tributação) ou privados (mercado consumidor), são maiores que os lucros advindos do proibicionismo - indústria do crime, conforme a denominação do Nils Christie lembrada pelo Dudu, que cria mercados para lucro com a venda legal de armas, construção e gerenciamenteo (público e privado) de prisões etc.
Vejam que mesmo com a "finalidade medicinal", a arte das garrafas dos refrigerantes de cannabis indica um consumo totalmente diverso, pois induz com suas imagens e suas cores sentimentos de excitação, energia, adrenalina, diversão, prazer.
E enquanto isso a juventude pobre das periferias continua recebendo o tratamento de "inclusão social" oferecido pelas políticas públicas (criminais): sistema prisional.

Criminal Justice Review - Punishment & Society - Acesso Portal de Periódicos da Capes

A Criminal Justice Review é uma revista norte-americana dedicada à publicação de pesquisas domésticas. O volume 36, número 01, de março de 2011, está disponível na web (aqui). A linha editorial segue os modelos atuariais e gerencialistas e as pesquisas são fundamentalmente estruturadas na criminologia ortodoxa, mas vale conferir. Destaco, neste edição, o artigo de Shaun L. Gabbidon, George E. Higgins e Hillary Potter sobre questões de raça e gênero no tratamento policial.

Diferentemente do periódico Punishment & Society, uma das principais revistas internacionais de criminologia que enfatiza perspectivas críticas. O volume 13, número 01, de janeiro de 2011, está igualmente diponível (aqui). Destaco a série de artigos sobre o simpósio The Prisoners’ Dilemma: Political Economy and Punishment in Contemporary Democracies, com trabalhos de Sparks, Nelken, McAra e Downes.


Lembro que todos os pesquisadores brasileiros (alunos de graduação e de pós-graduação e professores) possuem acesso gratuíto às revistas internacionais através do Portal de Periódicos da Capes (aqui).
Todas as Universidades nacionais estão cadastradas no sistema. Basta configurar o proxy o computador pessoal com os tutoriais fornecidos pelas Instituições de Ensino e acessar os artigos. Na UFRGS, por exemplo, após configurar o computador (aqui), acesso com a minha senha da biblioteca. 
Quem não possui vínculo com Instituições de Ensino também pode adquirir os textos, mas terá que pagar.
Com isso quero dizer que não há mais nenhuma desculpa para que alunos e professores não estejam atualizados com os últimos estudos nas suas respectivas áreas.

Economia Antiproibicionista

Ontem yo e Mari assistimos um programa muito interessante chamado Cannabis USA.
Os focos principais foram os efeitos da descriminalização em Portugal e a votação, em novembro passado, da Proposta 19 na Califórnia - projeto de lei reprovado por insignificante maioria que descriminalizava o porte de maconha droga para uso pessoal.
A reportagem abaixo foi publicada hoje na Folha de São Paulo.

"Refrigerante de maconha será vendido nos EUA no próximo mês
Um refrigerante de maconha, o "Canna Cola", estará nas lojas do Estado americano de Colorado em fevereiro. Cada garrafa custará entre US$ 10 e US$ 15 e terá entre 35 e 65 miligramas de THC (tetrahidrocanabinol), o principal ingrediente psicoativo do cannabis, o gênero botânico utilizado para produzir haxixe e maconha.
As informações foram publicadas na revista americana "Time".
São 15 os Estados americanos onde o uso da maconha para fins medicinais é legal. No entanto, as condições para sua legalidade mudam de um lugar para o outro, e maconha, independentemente do propósito, continua sendo ilegal pelas leis federais.
Há um projeto de lei no Congresso assinado pela senadora Dianne Feinstein, conhecido como "Brownie Law", aprovado pelo Senado no ano passado. A proposta é aumentar as penas para os que fazem produtos que misturem maconha com "algo doce".
O criador do "Canna Cola" é o empresário Clay Butler, que assegura que nunca fumou maconha e que elaborou a bebida por "acreditar que os adultos têm o direito de pensar, comer, fumar, ingerir ou vestir o que quiserem", disse em entrevista à publicação "Santa Cruz Sentinel".
Além do sabor de cola, serão lançados, ao mesmo tempo, o de limão chamado "Sour Diesel", o de uva de nome "Grape Ape", o de laranja "Orange Kush" e, por fim, o inspirado na popular bebida Dr. Pepper, o "Doc Weed".
De acordo com Scott Riddell, criador da empresa que comercializará a bebida, os níveis de THC em "Canna Cola" serão menores que os de outras bebidas do mesmo tipo que já estão no mercado. O efeito no organismo é similar ao de uma "cerveja suave"."

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Narradores Urbanos

UFRGS - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Programa de Pós-graduação em Antropologia Social

Antropologia e Etnografia em Contextos Urbanos - Sala Pantheon, UFRGS (Campus do Vale), Av. Bento Gonçalves, 9500, Porto Alegre, RS, Brasil - Telefones: 33086638, 33087158, 33086647, 92663001 - Entrada Franca

Programação: Narradores Urbanos
15 de março 2011
14h30m - Documentário
16 h – Conferência Alba Zaluar
17h30m – Documentário
18 h – Conferência Ruben Oliven
16 de março 2011
15 h 30 – Documentário
16 h – Conferência Jose Magnani
17h30m – Documentario
18 h – Conferência Eunice Durham
17 de março 2011
14 h 30m – Documentário
15 h 30 – Documentário
16 h – Conferência Antonio Arantes
17h30m – Documentário
18 h – Conferência Gilberto Velho (foto)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Outra Política de Drogas é Possível

O Nathan enviou o link de um debate na televisão norte-americana comentando a descriminalização do porte para consumo pessoal em Portugal e a política de subministração de heroína na Holanda - experiência que iniciou em meados da década de 90 na Suíça.
Sobre os interessantes resultados obtidos em Portugal, inclusive com a redução do número de usuários, publiquei post indicando o relatório de Glenn Greenwald (Cato Institute).
Na 5a edição do "A Política Criminal de Drogas no Brasil", dedico um capítulo exclusivo para analisar a experiência na Suíça.
É, pois, possível um outra política criminal de drogas. Não proibicionista, pautada pela noção de redução de danos e pelo respeito à autonomia individual.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Outra Política de Drogas é Possível?

Não durou mais de um mês o meu otimismo em relação à possibilidade de construção de uma alternativa à nossa política criminal de drogas genocida.
No primeiro dia útil do Governo Dilma escrevi sobre a nomeação do Pedro Abramovay (foto) para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. O título do post foi Dilemas para Dilma. É que o ato do Ministro José Eduardo Cardozo foi, para mim, muito simbólico. Sobretudo porque a antiga pasta denominada Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) tinha sido ocupada sempre por militares. Alterar o nome da Secretaria, nomear um civil com alta capacidade de mobilização política e com uma visão crítica sobre o proibicionismo projetava a possibilidade de um novo modelo.
Geraldo Prado e Moyses Neto escreveram sobre o tema. Subscrevo.
Fica a profunda decepção.

Estudos Psicanalíticos


EBEP – Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos
Atividades em Porto Alegre (2011)

08/04/2011. Seminário – “Recomeços sem origem da Psicanálise – a dimensão do jogar
Prof. Dr. Ricardo Rodulfo. Psicanalista, titular da Universidade de Buenos Aires. Autor de numerosas publicações e livros.
Horário: das 18h30min às 22h

14/05/2011. Conferências – “Sujeito, juventude e violência na contemporaneidade”, “Freud e a tradição da filosofia política
Prof. Dr. Joel Birman. Psicanalista, fundador EBEP – Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos. Prof. da Universidade Federal do RJ e da Universidade Estadual do RJ. Autor de numerosas publicações e livros.

26/08/2011. Seminário – “Atualização em filosofia contemporânea: revisando as bases filosóficas da psicanálise
Profª. Dra. Alejandra Tortorelli. Dra. em Filosofia, UBA.
Horário: das 18h30min às 22h

25/11/2011. Seminário – “A descapacitação na criança e seu tratamento psicanalítico em um enfoque multidisciplinar
Prof. Claúdio Stecker, psicanalista.
Horário: das 18h30 às 22h

Grupos de Estudos
Coordenação: Profa. Liane Pessin – Psicanalista e membro do EBEP
Tema: "Clínica contemporânea – o trabalho do negativo na psicanálise"

Coordenação: Marisa Cherubini – Psicanalista e membro do EBEP    
Tema: "Estudos Clínicos – atualizando a clínica via intertextos (Rodulfo, Birman e outros)"

Coordenação: Liane Pessin e Marisa Cherubini
Tema: "Derrida e a psicanálise"

Informações: http://ebep.org.br/

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Diálogos Juvenis


Yo e a Mari estávamos ontem durante a janta lembrando de alguns diálogos que ouvimos acidentalmente no tempo que passamos em aeroportos no último mês. Destaco dois deles, de conversação entre jovens.

Primeiro diálogo.
Os protagonistas são dois adolescentes, uma carioca e um paulistano. No ar aquele clima de conquista que todo mundo saca. A menina, em determinado momento, na troca de informações típicas das primeiras abordagens, diz ao rapaz ter escolhido o curso de Letras para o vestibular.
Menina: Então resolvi fazer Letras.
Rapaz: Pô, você deve gostar muito de ler.
Menina: Claro, você não?
Rapaz: Gosto, claro que gosto. Mas tipo assim... não livro, né?

Segundo diálogo.
Ao telefone, rapaz fala com a sua namorada sobre o clima na costa leste.
Rapaz: Caraca, aqui tá gelado.
Resposta.
Rapaz: Não, muito gelado mesmo. Sinistro! Ontem, por exemplo, fez menos zero.

Desenho retirado do excelente blog do português Eduardo Salavisa, "Desenhador do Cotidiano" - http://diario-grafico.blogspot.com/

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Instituto Internacional de Sociologia Jurídica (IISJ) - Workshops 2011


     1. Security Public Policy in an Age of Insecurity - Fecha: 7 - 8 Abril, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Lohitzune Zuloaga Lojo (Burgos) y Gemma Galdón Clavell (Barcelona)
     2. Prácticas punitivas y gobernanza global - Fecha: 14 - 15 Abril, Idioma/s: Castellano e Inglés, Coordinador/es: Libardo Ariza (Colombia), Manuel Alejandro Iturralde (Colombia) y René Urueña (Colombia)
     3. Families: Deviance, Diversity and the Law - Fecha: 5 - 6 Mayo, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Mavis Maclean (Inglaterra) y John Eekelaar (Inglaterra)
     4. Diferencias Invisibles: Género, Drogas y Políticas Públicas. El enfoque de género en las políticas europeas de drogas - Fecha: 12 - 13 Mayo, Idioma/s: Castellano e Inglés, Coordinador/es: Xabier Arana (Donostia), Iñaki Markez (Bilbao) y Virginia Montañés (Granada)
     5. The Sociology of International Law - Fecha: 19 - 20 Mayo, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Josh Kaplan (EEUU) y Mikael Rask Madsen (Dinamarca)
     6. Comparative Sociolegal Processes of Secularization – Political Variations on the Theme of Charles Taylor’s A Secular Age - Fecha: 26 - 28 Mayo, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: David Mednicoff (EEUU) y Shylashri Shankar(EEUU)
     7. Legal Pluralism and Democracy. When does Legal Pluralism enhance, when does it erode Legitimacy of and Trust in Democratic Institutions? - Fecha: 9 - 11 Junio, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Mirjam Künkler (EEUU) y Yüksel Sezgin (EEUU)
     8. Law, Rights and Social Mobilization in a multi-level European system - Fecha: 16 - 17 Junio, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Dia Anagnostou (Grecia)
     9. Critical Thinking Inside Law Schools - Fecha: 23 - 24 Junio, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Raquel Medina (Madrid) y Ulrike Schultz (Alemania)
     10. Sociolegal Perspectives on the ‘Glocalised’ Gambling Industry - Fecha: 30 Junio - 1 Julio, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Sandra Marco Colino (Hong Kong) y Martin Doris (Hong Kong)
     11. Democratic State's Response to Terrorism under the Rule of Law. A Historical and Comparative Approach to the protection of Human Rights and Civil liberties in the Fight against Terrorism - Fecha: 14 - 15 Julio, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Aniceto Masferrer (Valencia)
     12. Disasters and Sociolegal Studies - Fecha: 21 - 22 Julio, Idioma/s: Inglés, Coordinador/es: Susan Sterett (EEUU) y Thomas Birkland (EEUU)

     Informaciones: IISJ (Reuniones), Antigua Universidad, Apartado 28, 20560 Oñati (Gipuzkoa) - España - Tel.: +34 943 71 88 89 - Fax: +34 943 78 31 47 - E-Mail: malen@iisj.es

"Uivo" (o Filme) e The Ballad of the Skeletons

Depois que escrevi o post sobre Ginsberg, o poema publicado pela City Lights Books e o livro sobre o julgamento do conteúdo imoral d'O Uivo, descobri que em 2010 foi lançado filme sobre este debate.
Na realidade é um filme biográfico, protagonizado por James Franco no papel de Ginsberg, e que tem como pano de fundo o julgamento da obscenidade do poema. Assim como o livro (Howl on Trial), o filme teve como base para o roteiro as transcrições dos debates da Corte da Califórnia.
Não lembro ter lido sobre eventual lançamento no Brasil, mas o filme é muito bom e merece ser visto.
Franco está espetacular no papel - aliás, é um ótimo ator e havia chamado atenção quando interpretou o namorado de Harvey Milk (Sean Penn) em Milk (outro filme que fala muito sobre a contracultura em San Francisco).
Nos extras do DVD há gravação de Ginsberg declamando O Uivo. Primeiro: é impressionante o ritmo que Ginsberg dá ao poema; soa como uma balada de jazz. Segundo: é impressionante como Franco captou a forma ritmada que Ginsberg interpreta o texto e como conseguiu apresentar muito fidedignamente na película.
Não encontrei no YouTube leituras completas ou de qualidade do texto - fica a dica dos extras do filme. No entanto, encontrei trecho do filme que aparece a leitura de Franco de parte da terceira parte do poema; e uma apresentação de Ginsberg com McCartney, do poema (musicado) The Ballad of the Skeletons.
Creio que os vídeos dão uma dimensão interessante do que escrevi.



domingo, 16 de janeiro de 2011

Baudrillard, Matrix, Simulacros e Simulação

É reconhecida a inspiração dos irmãos Wachowski em Baudrillard para a realização da trilogia Matrix.
No primeiro episódio da série, nas cenas iniciais, ao realizar uma das suas vendas ilegais, Neo retira um de seus programas de computador subversivos de dentro de um livro, cuja capa denuncia a presença do autor francês no roteiro: Simulacra and Simulation (Simulacros e Simulação).
Um dos meus atuais prazeres é ler roteiros. Matrix, obviamente, faz parte da interminável lista de obras.
No script de Larry e Andy Wachowski:
"12. Int. Neo's Apartment.
(...) He closes the door. On the floor near his bed is a book, Baudrillard's Simulacra and Simulation. The book has been hollowed out and inside are several computers disks.
He takes one, sticks the money in the book and drops it on the floor." (grifos originais)
A cena é perceptível ao público atento, conforme as imagens.
No entanto, há um diálogo presente no roteiro que não consta no filme - na introdução do livro-roteiro os irmãos Wachowski registram que apesar de ser o roteiro final, alguns diálogos foram modificados no momento das gravações.
Após Neo escolher a red pill e ser resgatado pela Nebuchadnezzar, indaga Morpheus o que é a Matrix. Sentados na nave, o operador (Tank) os coloca dentro do programa de treinamento (construção-simulacro-simulação).
"39. Int. Construct.
(...) Morpheus: You have been living inside a dreamworld, Neo. As in Baudrillard's vision, your hole life has been spent inside the map, not the territory. This is the world as it exists today.
In the distance, we see the ruins of a future city protruding from the wasteland like the blackened ribs of a long-dead corpse.
Morpheus: Welcome to the desert of the real."

sábado, 15 de janeiro de 2011

"O Uivo" e Outros Livros da City Lights Books

A dificuldade foi selecionar, pois estavam disponíveis todos os livros da geração beat. A editora City Lights possui os direitos autorais de praticamente todos os beatniks.
Alguns clássicos foram inevitáveis: "A Coney Island of the Mind", poemas de Ferlinghetti - traduzido no Brasil como "Um Parque de Diversão na Cabeça"; edições comemorativas de "Howl", Ginsberg; Kerouac e Corso. O velho safado Buk, logicamente.
Mas para além dos clássicos, um livro me chamou atenção: "Howl on Trial", de Morgan e Peters. O livro conta a história, para mim desconhecida, da criminalização do poema "O Uivo", de Ginsberg.
Presos em 1957 - Ferlinghetti, por editar a obra, e Murao, funcionário da City Lights, por vender -, o poema foi submetido à Corte de San Francisco sob a acusação de obscenidade. Na introdução de "Howl on Trial", Ferlinghetti escreve que imaginava a repercussão do poema quando recebeu o manuscrito de Ginsberg. Conforme narra, esperava reações não tanto pelo conteúdo sexual (especialmente homossexual), mas pela profunda crítica que o poema faz aos "elementos da sociedade moderna que são destruidores das melhores qualidades na natureza humana e das melhores 'cabeças'" - a citação é do depoimento de Mark Schorer, professor de literatura da Universidade de Berkeley, testemunha de defesa no referido processo.
No entanto, a acusação, obcecada pelo conteúdo sexual da obra e embriagada em pânico moral, concentrou-se nos elementos sexuais do texto.
Em outubro de 1957 os acusados são declarados inocentes da publicação e da venda de escritos obscenos: "Howl and Other Poems foi escrito sem intenção lasciva e sem importante conteúdo de desordem social", concluiu o juiz Clayton Horn.

     "Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa (...)
     que se arrebentassem nas suas mentes na prisão aguardando impossíveis criminosos de cabeça dourada e o encanto da realidade em seus corações que entoavam suaves blues de Alcatraz (...)
     que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de Blake entre os estudiosos da guerra ,
     que foram expulsos das universidades por serem loucos & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
     que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestos de papel escutando o Terror através da parede (...)
     que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI de barba e bermudas com grandes olhos pacifistas e sensuais nas suas peles morenas, distribuindo folhetos ininteligíveis,
     que apagaram cigarros acesos nos seus braços protestando contra o nevoeiro narcótico de tabaco do Capitalismo,
     que distribuiram panfletos supercomunistas em Union Square, chorando e despindo-se enquanto as Sirenes de Los Alamos os afugentavam gemendo mais alto que eles e gemiam pela Wall Street e também gemia a balsa de Staten Island,
     que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos, nus e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,
     que morderam policiais no pescoço e berraram de prazer nos carros de presos por não terem cometido outro crime a não ser sua transação pederástica e tóxica que uivaram de joelhos no metrô e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos (...)
     que exigiram exames de sanidade mental acusando o rádio de hipnotismo & foram deixados com sua loucura & e mãos & um júri suspeito, que jogaram salada de batata em conferencistas da Universidade de Nova Iorque sobre Dadaísmo e em seguida se apresentaram nos degraus de granito do manicômio com cabeças raspadas e fala de arlequim sobre suicídio, exigindo lobotomia imediata,
     e que em lugar disso receberam o vazio concreto da insulina metrazol choque elétrico hidroterapia psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue & amnésia,
     que num protesto sem humor viraram apenas uma mesa simbólica de pingue-pongue mergulhando logo a seguir na catatonia,

     voltando anos depois, realmente calvos exceto por uma peruca de sangue e lágrimas e dedos para a visível condenação de louco nas celas das cidades-manicômio do Leste,
     Pilgrim State, Rockland, Greystone, seus corredores fétidos, brigando com os ecos da alma, agitando-se e rolando e balançando no banco de solidão à meia-noite dos domínios de mausoléu druídico do amor, o sonho da vida um pesadelo, corpos transformados em pedras tão pesadas quanto a lua,
     com a mãe finalmente fodida e o último livro fantástico atirado pela janela do cortiço e a última porta fechada às 4 da madrugada e o último telefone arremessado contra a parede em resposta e o último quarto mobiliado esvaziado até a última peça de mobília mental, uma rosa de papel amarelo retorcida num cabide de arame do armário e até mesmo isso imaginário, nada mais que um bocadinho esperançoso de alucinação (...)" (trechos selecionados d'O Uivo, de Ginsberg).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pequeno Tráfico de Drogas

Recebi vários e-mails sobre a entrevista do Pedro Abramovay, Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, na qual defende projeto que impede prisão aos "pequenos traficantes".
Conforme havia postado anteriormente, a escolha do Pedro para a Secretaria foi particularmente precisa. Conhece a matéria e tem capacidade política de articulação para buscar alternativas ao encarceramento em massa causado pela genocida estratégia de war on drugs.
Para lembrar: 20% da população carcerária masculina e 50% da feminina está presa em decorrência do comércio ilegal de drogas. Poucos - repito: poucos - "grandes traficantes". Nossos presos por tráfico, sobretudo as presas, são pequenos comerciantes. Nenhum "barão da droga" frequenta nossas cadeias.
Além disso nossa legislação é particularmente perversa e muito falha, criando poucas soluções para graduação de "espécies de tráfico". A própria diferenciação entre porte para consumo e para comércio é nebulosa. Na lacuna ou omissão da lei, a prisão é a solução natural que os juízes encontram, entorpecidos pela lógica proibicionista e pelas campanhas de pânico moral - "crack, nem pensar" é o exemplo mais evidente.
Duas questões técnicas (pois o domínio da dogmática é importante para quem milita no Direito), sobre o debate.
A primeira é a referência ao traficante-dependente, o sujeito que vende droga para sustentar o vício. Publiquei com o Rafael Canterji artigo sobre o tema e depois desenvolvi no Política Criminal de Drogas. A legislação não impede que o juiz reconheça dependência em casos de tráfico, mas nossa jurisprudência é praticamente unanime em vedar a minorante ou a causa de exclusão de culpabilidade. Vícios jurisprudenciais do punitivismo.
O segundo ponto é que, mantendo o modelo proibicionista, é fundamental estabelecer critérios de diferenciação e graduação das hipóteses de comércio - como estabelece a legislação espanhola, p. ex., conforme igualmente trabalhei no Política.
Agora vejamos as repercuções da fala do Pedro, torcendo para que ele consiga avançar na matéria.

Entre Ruas e Avenidas

Inscrição gravada no corredor da escada de acesso ao setor de poesia beatnik da City Lights Booksellers & Publishers, San Francisco, CA.
[Foto: Mari Weigert]

Homo Beatnikus

Depois de uma semana no intenso frio da costa leste chegamos em San Francisco ("west is the best", cantou Morrison). Clima ameno, sol, temperatura agradável, pessoas receptivas.
Devidamente instalados no apartamento que nos acolherá pelas próximas semanas resolvemos dar uma volta pelo circuito beatnik.
Tive os primeiros contatos com a literatura beat em Santa Maria, quando ainda estava na 7a. ou 8a. série do Colégio Centenário. No grande grupo de amigos que cultivo até hoje se destacava a Neca - hoje Profa. Dra. Maria Tereza Flores-Pereira, casada com meu irmão Zeca (Prof. Dr. José Carlos Moreira da Silva Filho).
A casa da Neca sempre foi um ponto de encontro daquele pessoal. Inclusive por alguns motivos muito especiais que não merecem ser referidos publicamente.
Na casa da Neca conheci o seu irmão, o Ence (Prof. Dr. Lawrence Flores Pereira). O Ence era mais velho, estava no 2o. grau, e rapidamente se transformou em uma referência para mim. Posso dizer que ele exercia uma espécie de "orientação intelectual político-literária".
A figura do Ence me fascinava. Estudioso, culto, crítico, irreverente.
O Ence deu a linha política e ajudou o nosso grupo a montar a chapa para o Grêmio Estudantil  ("Começando por Aqui", era o pretencioso nome). Foi o responsável, junto com a sua namorada Pati (Prof. Ms. Patrícia Genro Robinson), pela criação do nosso Grupo de Teatro - o casal nos ajudou a escrever, a dirigir e a montar nossa primeira e única peça.
E foi o Ence quem me apresentou Jack Kerouac, William Burroughs, Neal Cassady, Lawrence Ferlinghetti, Allen Ginsberg e Gary Snyder. Inclusive emprestando os livros - a propósito, a biblioteca do Ence sempre foi um objeto de desejo dos que frequentavam a casa da Neca.
Hoje pensei muito no Ence quando estava com a Mari na City Lights Booksellers & Publishers.
A livraria e editora (http://www.citylights.com/) foi o ponto de encontro e o espaço de resistência da Geração Beat em San Francisco na década de 50. Fundada pelo Ferlinghetti (na foto, em frente da livraria-editora) em 1953, está em plena atividade.
Não preciso dizer a emoção que senti durante as horas que estivemos na City Lights. Em determinado momento, no segundo andar - local reservado exclusivamente para a literatura beatnik - a Mari chamou atenção: éramos umas 06 pessoas sentadas nas poltronas da livraria, ouvindo jazz e lendo poesia beat.
Adquiri alguns livros publicados pela editora City Lights (Bukowski, Ginsberg entre outros) - todos disponíveis em português e publicados quase exclusivamente no Brasil pela L&PM. Nos próximos posts falo um pouco deles. A Mari comprou The Woman Destroyed, da Beauvoir.
A linha editorial da City Lights é bastante diversificada, inclusive com publicações na área da Criminologia e dos Estudos Culturais.
Depois uma taça de vinho no Vesuvio (http://www.vesuvio.com/).
Mas isto é para outro post.

[Post deliberadamente dedicado ao Marcelinho Mayora, genuíno beatnik]

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Law, Culture and the Humanities

Disponível na web o volume de fevereiro (número 07, volume 01, 2011) do periódico Law, Culture and the Humanities (aqui). Dentre os artigos publicados, destacam-se:
Marty Slaughter, Sacrifice and the Singular.
Jeremy Elkins, Law and Sacrifice.
Melissa Ptacek, Remarks on Sacrifice and Punishment.
Douglas Litowitz, Max Weber and Franz Kafka: A Shared Vision of Modern Law.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Plebiscito sobre a Descriminalização das Drogas

Matéria publicada na Folha de São Paulo de hoje: "O novo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou ontem que a questão da descriminalização do uso de drogas pode ser levada a plebiscito ou referendo. Em entrevista à TV Brasil, ele defendeu que a sociedade precisa discutir o assunto, mas não adiantou seu posicionamento sobre a questão. 'Posições muito vanguardistas são desastrosas', disse."
Tenho severas dúvidas em relação aos plebiscitos sobre temas como aborto e descriminalização das drogas.
Temas deste porte sempre cruzam de forma pouco produtiva as fronteiras entre os discursos do direito e da moral. E em época de forte apego aos pânicos morais, invariavelmente as tentativas de secularizar os debates que envolvem direito penal e saúde pública são frustradas.
Mas não é algo que deva ser descartado a priori, penso.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mídia e Cobertura do Crime

Meu amigo que trabalha na Amazon enviou a dica do recente livro Media Coverage of Crime and Criminal Justice (aqui) de Matthew B. Robinson.
O autor é Mestre e Doutor em Criminologia pela Florida State University e atualmente é professor de Ciência Política e Justiça Criminal no Departamento de Government & Justice StudiesAppalachian State University, Carolina do Norte (EUA).

Crime, Mídia, Cultura

Disponível na web o volume 06, número 03, dezembro de 2010, da Revista Crime Media Culture, coordenada por Jeff Ferrell (aqui).
Dentre os artigos, destaco:
Enron's perp walk: Status degradation ceremonies as narrativeGray Cavender, Kishonna Gray, Kenneth W. Miller.
Stanley Kubrick's A Clockwork Orange as art against torture Carolyn Strange.
'Trying to reach the future through the past': Murals and memory in Northern IrelandBill Rolston.
Young people and police series: A multicultural television audience studyJoost De Bruin.
The Code of Harry: Performing normativity in DexterWilliam Ryan Force.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dilemas para Dilma: Efetividade dos Direitos Humanos

Se o Brasil avançou muito na 'Era Lula', sobretudo no que tange à diminuição da miséria e criação de políticas de efetiva inclusão social, inúmeros problemas relativos aos Direitos Humanos seguem como questões a serem enfrentadas com coragem.
Lógico que estamos temerariamente falando do primeiro dia útil do Governo Dilma, mas a escolha de certos nomes para primeiro e segundo escalões foi, ao meu ver, significativa.
No seu discurso de posse a Secretária de Direitos Humanos Maria do Rosário conclamou os congressistas para que aprovem a criação da Comissão da Verdade. Não ouvi o discurso, mas os todos os comentários posteriores que tive a oportunidade de ouvir e ler lembraram a recente decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a Lei da Anistia.
A criação da Comissão é importante passo para resgate da memória.
Não estou tratando da questão da punição dos responsáveis pelas graves violações aos Direitos Humanos durante a Ditadura, como está fazendo a Argentina. Refiro, no mínimo, a necessidade de que os arquivos seja completamente abertos. A sociedade brasileira tem o direito de conhecer o destino dos desaparecidos, seus responsáveis e seus colaboradores. A questão da punição é outra, embora entenda sejam necessários processos formais de memorização. Inclusive para que se possa realizar um esquecimento saudável - e não patológico - e superar esta triste página do nosso passado recente.
"O Estado brasileiro tem que resgatar sua dignidade em relação aos mortos e desaparecidos na ditadura", afirmou corretamente Rosário.
Notícia interessante do ponto de vista político e muito entusiasmante do ponto de vista afetivo foi a nomeação de Paulo Abrão Pires Junior (foto) como novo Secretário Nacional de Justiça, indicado pelo Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo no final da semana passada. 
Paulo Abrão, amigo e parceiro acadêmico na Unisinos e na PUC, foi o presidente da Comissão de Anistia no Governo passado. A escolha inegavelmente reforça a importância do tema na nova agenda política brasileira.
Por fim, outra notícia interessante foi a nomeação de Pedro Abramovay para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD). Abramovay possui conhecimento e competência suficientes para desenvolver um excelente papel na mudança de rumos da nossa genocida política de drogas - sua alta capacidade de articulação política foi demonstrada quando estava na presidência da Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL).